2cabeças: a cervejaria louca por lúpulo

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Trocamos a marca por mais lúpulo.

Com esta frase a 2cabeças começou um lance original no mundo cervejeiro artesanal do Brasil. Devemos confessar: a palavra lúpulo nos é muito cara ;) e fomos ver o que está acontecendo naquelas cabeças.

A cervejaria já havia antecipado a surpresa no seu site , mas foi no Mondial de La Bière, no Rio de Janeiro, que o estande e as novas idéias chamaram a atenção da galera. Vale lembrar que originalidade é marca da 2cabeças: sua primeira cerveja produzida foi uma black IPA e não a costumeira blonde que todo micro cervejeiro faz para agradar ao mercado.

Outro aspecto inusitado é que a 2cabeças não tem fábrica própria e sempre faz sua produção – depois de inventada nos “laboratórios” da empresa – em parceria com outra cervejaria amiga. Com a Brewpub Penedon lançou no Mondial a sazonal X-Imperial Lager. Antes já havia feito a Saison à Trois com a cervejaria Invicta. No Mondial foi apresentada também a X-SessionIPA – que entra em produção contínua - com 4,7% de álcool, como as cervejas industrializadas, mas com 45 IBU (unidade de amargor) trazendo a potência de uma American IPA, deixando-a ainda mais refrescante e aromática, ideal para o clima em nosso país.

Fizemos uma entrevista com a 2cabeças para saber mais de sua história e seus planos. Um prazer termos no mercado gente que ousa, faz de seu sério trabalho uma provocação e se diverte com isso \o/

 

Lupulinas – A 2cabeças marcou sua história pela ousadia e quebra de paradigmas que cercam o mundo cervejeiro artesanal. Conte um pouquinho sobre o inicio da empresa e a função de cada um da diretoria da 2cabeças.

2cabeças – A 2cabeças surgiu com dois cervejeiros caseiros, Bernardo Couto e Salo Maldonado, e no início de 2012 lançamos o primeiro lote de Hi5 no mercado. O sucesso foi grande, e aí começamos a nos estruturar melhor. Depois de algum tempo, conseguimos estabilizar a produção, lançar a Hi5 e a Maracujipa em garrafas. Mas nunca queremos perder a alma do cervejeiro caseiro, que é de inovar e ter compromisso apenas com qualidade. No início de 2013 tivemos a entrada da cervejeira Maíra Kimura, o que nos ajudou a crescer mais e deixou nosso time mais forte. Então, hoje dividimos muito as funções e tentamos agir o mais coletivamente que podemos, mas podemos dizer, em linhas gerais, que o Salo cuida da área comercial, financeira e novos projetos; Maíra da operação, logística e gestão e Bernardo da produção de cervejas e comunicação da 2cabeças.

Lupulinas – Afinal são três ou duas cabeças?

2cabeças – Duas cabeças pensam melhor que uma! Acreditamos no coletivo, na combinação de elementos, no equilíbrio. O nome veio disso, nunca foi por sermos duas pessoas a fundar a cervejaria. Mesmo no começo, houve a possibilidade de entrar um terceiro elemento, e não foi cogitado mudar o nome. Há uma associação às pessoas, que é natural, mas esperamos que ela perca força pois, como falei, o coletivo sempre vence. Uma empresa não é apenas o espelho dos fundadores, dos sócios ou de quem for. É o resultado de um trabalho de várias pessoas, que vão passando pela empresa.

Lupulinas – Vocês foram muito ousados em destruir a marca 2cabeças, que já começava a se firmar no mercado cervejeiro alternativo, para adotar o X (sem marca). Por que essa decisão?

2cabeças – A gente não matou o nome 2cabeças, apenas a logomarca e os rótulos. Achamos que era o momento de mudar, de buscar outros caminhos em termos visuais, e ainda há novidades que vem por aí. Aguardem cenas do próximo capítulo.

Lupulinas – Vocês vão dar novos nomes às suas já consagradas garrafinhas. O quê vai virar o quê, quais as novidades e qual tipo de cerveja não vai mais ser feita por vocês.

2cabeças – Dentro desse conceito de não marca, deixamos as cervejas com nomes genéricos, como X Black IPA. É, também, uma homenagem aos cervejeiros caseiros que não batizam suas cervejas, muitas vezes, assim como não rotulam. Mas, naturalmente, não vamos abandonar os nomes das cervejas definitivamente. Hi5 e Maracujipa tem uma história muito importante e verdadeira para a gente. Fora elas, lançamos nossa X Session IPA, que está inserida neste momento sem marca e depois entra em nova fase. Ela é uma versão de IPA mais leve, com foco em drinkability, mas sem perder o caráter de lupulagem extrema que uma IPA pede. Ela será mantida na nossa linha fixa. Já era uma receita que planejávamos lançar há meses e finalmente conseguimos!

Lupulinas – “Trocamos a marca por mais lúpulo” é o slogan da mudança da empresa. Vocês acham que esta paixão pelo lúpulo veio pra ficar no mercado cervejeiro artesanal?

2cabeças – Acho que o lúpulo representa a quebra de paradigma das cervejas de massa. A atitude, a vontade de ser diferente. Dentro deste segmento, ele é muito importante, e está cada vez mais em alta. Ele é o tempero da cerveja, e muita gente não gosta de comidas insossas como as congeladas de produção de larga escala. Muito melhor a lasanha da vovó, cheia de recheio e temperos, do que algo genérico para microondas, massificado e feito com foco em critérios como baixar custo, ser o mais neutro possível e ter um índice de rejeição mais baixo possível. Buscamos o melhor, e o melhor para mim pode desagradar a muitas pessoas. E isso é ótimo, viva a pluralidade! Não acreditamos apenas no lúpulo, mas na diversidade e na ousadia. A acidez é algo que virá, assim como a utilização de insumos locais em maior quantidade.

Lupulinas – Qual o principal entrave para baratear as cervejas artesanais brasileiras?

2cabeças – O imposto é cruel e não faz distinção do tamanho das empresas. Então, produtos mais caros de se produzir geram impostos mais altos e assim chegam ainda mais caros para o consumidor final. Para vender uma long neck de cerveja artesanal, uma cervejaria acaba pagando, muitas vezes, só de imposto mais que o preço de uma cerveja de massa custa no mercado. E aí, temos outros impostos embutidos no custo, como questões trabalhistas (há muitos mais funcionários por litro produzido em relação às grandes), custo de importação de insumos, fundamental já que não há lúpulos nem maltes especiais de origem. Temos a famigerada ST, que gera uma bitributação quando o produto sai do estado produtor. O custo de frete é alto no país. É uma bola de neve.

Lupulinas – Qual a principal dificuldade para distribuir suas cervejas?

2cabeças – Ter uma produção regular, já que não temos cervejaria própria, e acompanhar mais de perto a distribuição fora do Rio de Janeiro. Somos pequenos ainda, então acabamos não tendo braços para estarmos mais próximos. Mas temos distribuição hoje em cinco estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Já houve interessados em distribuir para outros estados, mas por enquanto estamos focando nestes para manter um controle melhor. Elas acabam chegando a alguns outros estados através de clientes que compram direto da gente, mas é algo pequeno ainda.

Lupulinas – Quem faz a distribuição da X para todo o Brasil?

2cabeças – Da 2cabeças, né? :) Não temos distribuição nacional, como falei acima. No Rio, temos a nossa distribuidora. Nos estados citados, temos representantes regionais que fazem este trabalho em parceria com a 2cabeças. Nos estados onde não temos distribuição, nossa atuação se resume a compra direta da nossa distribuidora no Rio de Janeiro. Desta forma, hoje há cervejas da 2cabeças no Mato Grosso e no Piauí.

Lupulinas – Finalmente, agora, aquele “furo de reportagem” para as Lupulinas… ;)

2cabeças – Estamos preparando mudanças e tudo isto foi planejado. Trocamos a marca por mais lúpulo por que nós quisemos. Não fomos processados, como muitos falaram. Não brigamos entre nós. O Eike não comprou a 2cabeças. Não vamos mudar as receitas das nossas cervejas que estão no mercado… ufa!

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