#Mimimilho: A tortuosa questão do milho na cerveja

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texto e fotos: Cilmara Bedaque e divulgação

Já há algum tempo, o Lupulinas quer falar sobre a adição de milho (e arroz) na cerveja. Isso porque este assunto virou uma grande oportunidade para todos estudarmos, aprendermos e não sairmos por ai repetindo as coisas de orelhada.

Sim, porque neste mundo da cultura da internet™ grandes mentiras viram verdades e grandes verdades viram piadas. O milho, depois de usado pelas grandes cervejarias para baratear seu custo, produzir teor alcoólico e, além de tudo, ser escondido nos rótulos sob o cognome de “cereal não maltado” foi chicoteado, esquartejado e ofendido em sua nobreza de grão. O problema não é o milho, mas sim o uso que essa indústria fez dele. Aí começou essa ignorância que só malte de cevada era cerveja e que outras experiências procurassem outro nome. O grau de ataque é nível torcida de futebol enfurecida.

Todos têm que ter opinião para tudo? Vamos lá. Fui averiguar o assunto. Oh! A mais antiga “cerveja” encontrada na China era feita de arroz? Os rígidos alemães usaram milho para retirar a opacidade de suas cervejas? Muitos iniciantes no consumo da cerveja artesanal aceitam com felicidade as cervejas de trigo? Os andinos faziam sua cervejinha (chicha) mastigando milho? Existe um estilo de IPA chamado Rye IPA que usa até 20% de centeio? Experimentei outro dia uma deliciosa cerveja peruana feita de quinoa?

Aí veio a AMBEV e se associou à Wäls e à Colorado e muitos ~entendedores~ começaram a falar que todo produto que estas pioneiras cervejarias artesanais produziriam seria feito com milho. Nesse tipo de raciocínio há muita culpa da própria Ambev que, pelo jeito, aprendeu com a Kirin que não precisa fazer a política da terra arrasada. Até a Stella Artois feita aqui pela Ambev foi “abrasileirada” e perdeu seu marcante aroma ainda encontrado pelo resto do mundo. Isso sem falar na Original, Serramalte e outras cervejas “adaptadas”. Parece que nessas recentes associações há um novo espírito dentro da grande indústria. Óbvio que essa intenção precisa ser comprovada ao longo do tempo.

Mas aí já que virou o #Mimimilho, os irmãos Carneiro – da Wäls – partiram pra ousadia. Já que estavam acusando suas cervejas com argumentos tão falsos, eles lançaram semana passada e, em breve, deve estar nos supermercados, a Wäls Hop Corn IPA com 15% de milho anunciado no rótulo! (Transparência, que beleza!) Na verdade é usado um xarope chamado de High Maltose que fermenta ajudando a dar teor alcoólico à cerveja. Como a paixão por lúpulos está em alta *-* eles abusaram da quantidade e da variedade (Columbus, Cascade e Amarillo e finalizada com um dry hopping de Centennial). A Hop Corn tem 6.7% de teor alcoólico, 70 IBUs e uma leveza que garante sua bebalidade por um bom tempo.

Pra completar o serviço, os irmãos Zé Felipe e Tiago Carneiro, junto com a Bohemia, colocaram no rótulo saquinhos de pipoca cheios de lúpulo e conclamaram todos nós a derrubar um muro de falso conhecimento que só faz mal para a evolução da cerveja.

Outra bem humorada cervejaria brasileira – a 2cabeças – também entrou na pretensa polêmica do #Mimimilho e produziu, em colaboração com a cervejaria dinamarquesa Amager Bryghus, a Marry Me in Rio, uma Cream Ale com lúpulos Simcoe, Sorachi Ace e Centennial e 10% de flocos de milho e arroz. O Lupulinas adorou que no rótulo o casamento retratado fosse o de duas mocinhas \o/ E como a 2cabeças capricha, as mocinhas são uma loira, outra morena, são peitudonas e ainda têm o Cristo Redentor acima de braços abertos :D

Então é isso: muitas vezes a piada e o sectarismo escondem a verdade e a melhor coisa pro consumidor é beber a cerveja que gosta, ler em seu rótulo do que ela é feita e brindar com seus amigos.

PS.: Agradeço a todos os colegas blogueiros ou produtores de cerveja que me elucidaram, através de leituras ou de bons papos, sobre os vários aspectos desta questão.

 

Cervejas Pra Aquecer o Inverno

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texto e fotos: Cilmara Bedaque

 

O inverno pede cervejas mais encorpadas, ricas em malte e com teor alcoólico mais elevado. Essas cervejas geralmente são escuras, mas não obrigatoriamente. Além de nos aquecer ao bebermos, elas também acompanham muito bem refeições mais gordurosas como assados e molhos mais substanciosos.

A presença do malte e o quanto ou a maneira como foi tostado dão uma coloração ruiva lembrando caramelo, marrom que remete à bala toffee e defumados e a totalmente negra que sugere café e chocolate aos nossos sentidos. Não precisam estar muito geladas para que não percamos a delícia que é bebê-las.

Temos pelo mundo inteiro – e aqui no Brasil – maravilhosos exemplos dessas cervejas que podem ser quanto ao estilo bem variadas. Por exemplo, Bock, Weizenbock, Dubbel, Tripel, Strong Dark Ale, Stout, Barney Wine, Old Ale, Porter, IPA, Russian Imperial Porter e etc. Se vier escrita a palavra Imperial antes de alguns destes estilos, saiba que é potencializada a receita da cerveja com maior teor alcoólico e, em alguns casos, com adição de maior quantidade de lúpulo.

Poderia ficar horas escrevendo sobre maravilhosas cervejas, novas e antigas, mas vou preferir recomendar minhas preferidas das que temos nos super-mercados. Isso pensando na comodidade e também no preço mais acessível. Comecemos pelas Baden Baden, de Campos do Jordão (SP) que hoje estão incorporadas ao catalogo da cervejaria japonesa Kirin. Muito boas as Chocolate, Stout e Bock. Da Cervejaria Colorado, temos a especialíssima Vixnu, uma Imperial Double IPA com teor alcoólico de 9,5%; a Demoiselle, uma Porter que leva adição de café; a Indica com rapadura em sua receita e a sazonal Ithaca, Imperial Stout que leva rapadura queimada. Todas estas cervejas, além de acompanhar refeições mais gordurosas (de assado a feijoada), ficam ótimas também com queijos de massa dura (Grana Padano, Parmesão) ou os chamados azuis (Gorgonzola e Roquefort).

Nas gôndolas dos supermercados também encontramos as brasileiras Way Cream Porter e Avelã Porter, as Bamberg Rauchbier e Bambergerator, as Eisenbahn Strong Golden Ale, Weizenbock e Dunkel, a Schornstein Imperial Stout, as Wälls Tripel e Petroleum e a Amazon Stout Açai. Todas excelentes.

Vindas de fora e encontradas também nos super-mercados, recomendo as belgas Delirium Tremens (a conhecida marca do elefante rosa), St Feullien Tripel, a trapista Chimay Blue, Carolus Tripel, St Bernardus Tripel, Maredsous 10 , Tripel Karmeliet, La Chouffe e Duvel. Da cervejaria americana Brooklyn, no inverno podemos nos deliciar com a Brown Ale e mesmo com a East Indian Pale Ale (IPA). Dos ingleses, mestres e inventores dos estilos Porter e Stout, encontramos a Harviestoun Old Engine Oil, uma Robust Porter muito boa e a Robinsons Old Tom com chocolate. Das alemãs, gosto da Erdinger Pikantus e a Franziskaner Hefe-Weissbier Dunkel.

Se você quiser gastar mais numa data especial a opção é ir à loja de cervejas artesanais da sua cidade. Aí esta lista aumenta bastante, mas posso, em linhas gerais, dar destaque para as nacionais Tupiniquim Dubbel, Bodebrown Perigosa Imperial IPA, Dum Petroleum, 3 Lobos Bravo, Anner Bier Maria Degolada e as importadas Dieu du Ciel! Aphrodisiaque, Rogue Hazelnut Brown Nectar, Flying Dog Gonzo, a trapista Rochefort 10, De Molen Hamer & Sikkel, Ballast Point Porter e outras tantas.

O que vale é que no inverno você pode sair da mesmice de queijos e vinhos e se jogar no mundo da cerveja de qualidade. Esqueça as imagens de cervejas geladas e praias por uma temporada. Mude sua cabeça e veja cervejas de chapéu e cachecol.

As novidades da Cervejaria Brooklyn aqui no Brasil

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texto e fotos de Cilmara Bedaque

Ontem o clima foi super descontraído no lançamento de dois novos rótulos da cervejaria americana Brooklyn lá no Empório Alto de Pinheiros. Feliz por estar saindo de uma bela gripe e contente de encontrar meus amigos blogueiros de cervejas artesanais, ainda fui surpreendida pelas novidades.

Primeiro, a linha completa da Brooklyn com todos os rótulos importados pela Beermaniacs e mais dois lançamentos sensacionais:
1) da série Brooklyn Quartely Experiment: Brooklyn K is for Kriek (somente garrafa 750ml) e
2) da série Brewmaster’s Reserve: Brooklyn Quadraceraptops (somente chope).
Para comemorar, eles bolaram a Tap Takeover Brooklyn Brewery no EAP que, em bom português quer dizer que você pode, a partir de hoje e durante uma semana, experimentar uma tábua com seis rótulos da Brooklyn em copos de 180ml e depois, se quiser, escolher uma e se deliciar com a boa cerveja na torneira (chope) bem fresca e deliciosa.
Os rótulos escolhidos para esta degustação são:
- Vienna Lager – uma receita clássica, a primeira feita pela cervejaria em 1988 e terceirizada em sua produção até hoje, é a mais vendida da Brooklyn nos Estados Unidos o que se traduz em quase 40 milhões de litros anuais!
- East IPA – a mais vendida no Brasil e uma das primeiras receitas do mestre-cervejeiro da Brooklyn, o simpático Garrett Oliver. É uma IPA com características mais para a escola inglesa do que para a lupuladíssima escola americana.
- Brown Ale – receita anterior à entrada de Garrett na Brooklyn, equilibradíssima que não pende nem tanto ao café nem tanto ao chocolate.
- Sorachi Ace – uma clássica Saison, feira com o lúpulo de origem japonesa, o Sorachi, bem seca e não filtrada. Na refermentação na própria garrafa é acrescentado levedo de champagne o que a transforma numa verdadeira festa em nossa boca.
- Weizenhammer – uma cerveja de trigo que ganhou 87 pontos na BeerAdvocate, a bíblia de notas da cerveja artesanal.
- Quadraceraptors – lançamento aqui no Brasil, é uma Strong Dark Abbey Ale, complexa e, apesar de bem alcoólica, sem nenhum traço de álcool em nossa boca. É da linha que a Brooklyn classifica como Brewmaster’s Reserve, um pequeno lote experimental de uma receita feita só uma vez e destinada aos bares e paladares mais conhecedores do assunto. Garantimos que este seu nome dinossáurico não é à toa. É simpático, mas é uma fera! Uma delícia que deve ser experimentada com cuidado.

Bebemos também a especialíssima A Brooklyn K is for Kriek, inspirada nas cervejas belgas maturadas com cerejas em barris de carvalho, baseada na Local 2, “adicionando mel de flores silvestres, raspas de cascas de laranja, melado de açúcar escuro e cerejas secas Montmorency de Michigan. Após a maturação em barril de carvalho por seis meses, um líquido vermelho vibrante, com intenso aroma das frutas e amadeirado do carvalho surge, portando 10% de álcool. Parece bom, certo? Fica melhor. A cerveja é refermentada mais uma vez na garrafa com fermento de champagne e Brettanomyces. Espera-se mais um ano, e aí sim ela está pronta para servir!” Esta descrição entre aspas foi literalmente copiada do release feito pelo Paulão, dono do EAP, e por Rafaela e eu não poderia descrever melhor. Lembrei de Vange Leonel, nossa inesquec;ivel parceira também aqui no Lupulinas, que descrevia um vinho australiano com um aroma de “suor de leão na savana” já que na Brooklyn K is for Kriek identifiquei um “suor de sela de cavalo”. Juro que não estou brincando!

Nesta semana também está à disposição do publico a possibilidade de experimentar em uma taça de 150ml as garrafas de 750ml da Brooklyn com maravilhas engarrafadas como a Brooklyn Local 1 e 2, a Hand & Seal e outros rótulos que, pelo alto custo da garrafa, ficam sempre relegados a momentos mais que especiais.

A tarde da Brooklyn no EAP foi legal também porque nos foi apresentada a primeira embaixadora da Brooklyn aqui no Brasil, a gaúcha Rafaela Brunetto que, com simpatia, bom humor e competência, fez nossa já agradável tarde de degustação ficar relaxada como um bom papo entre amigos que apreciam uma boa cerveja artesanal. Em meio a curiosidades sobre o nascimento da Brooklyn e seu momento atual fomos bebericando e coletando estas informações.

Que a Brooklyn continue entre nós por muito tempo!

 

Marcelo Carneiro & Colorado: um papo com o dono da cerveja do ursinho

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texto e edição: Cilmara Bedaque
fotos: Cilmara Bedaque e divulgação
transcrição: Luciana Moraes

Dia desses marquei um encontro com Marcelo Carneiro, dono da Cervejaria Colorado, para falarmos sobre ele, o começo da fábrica e os planos para 2015. O papo correu cariocamente amigável e solto como se nos conhecêssemos há muito tempo. Vamos saber um pouco da história de uma das maiores micro cervejarias do Brasil.

Marcelo – Eu queria comparar o que está acontecendo com a cerveja artesanal com o que aconteceu com a música, com o rock, há alguns anos atrás.
A música hoje em dia se financiou e virou um negócio. É uma coisa amorfa e não tem um espaço de contestação como tinha antigamente. Por outro lado, o mundo da cerveja artesanal está virando uma espécie de um rock engarrafado.

Cilmara – É engraçado você falar isso porque o Lupulinas era feito pela Vange e por mim e sempre nos atraiu, quando a gente começou a entrar nesse universo de cerveja artesanal, uma espécie de clima de ‘rock de garagem’ que a gente viveu nos anos 80. Sentimos de cara essa similaridade. Os “grandes”, os que continuaram alternativos…Tem um monte de coisas que a gente pode colocar como muito parecidas…

Marcelo – É verdade. É totalmente essa briga contra o mainstream, contra a mesmice. Com as vaciladas que os artistas também davam, antigamente.

Cilmara – Conta para o nosso leitor, que já deve reconhecer a Colorado nas prateleiras dos supermercados e dos armazéns especializados, como você teve a idéia de montar uma cervejaria e como foram os primeiros anos. A Colorado é de 1995, né?

Marcelo – Isso, 95. Vinte anos já! Eu nem sabia o que eu estava fazendo direito, na verdade. Quem botou a gente nessa onda foi o Cesáreo Melo Franco, esse meu amigo que fez a comparação há poucos dias no Facebook dos dois movimentos do rock e da cerveja e eu achei que era muito pertinente a história. Mas eu também não sabia que estava fazendo rock. Eu achei que estava fazendo uma coisa muito fácil, tomar cerveja… Fui para a Califórnia, eu me lembro da primeira Indian Pale Ale que eu tomei: a Blind Pig, Porco Cego. Achei o nome muito engraçado e essa cerveja até hoje existe. Fui lá e comecei em Ribeirão num modelo muito diferente do que estava sendo feito no Brasil. Na época, estavam abrindo várias cervejarias fazendo cerveja Pilsen, filtrada e não filtrada, ou cerveja Bock, não sei que e tal. Eu vim e trouxe todos aqueles sabores diferentes, influenciado pelo que estava acontecendo lá fora.

Cilmara – Na Califórnia principalmente.
Marcelo – Isso. Há 19 anos eu já tinha Indian Pale Ale, eu já tinha Red Ale, eu já tinha uma Stout, eu tinha uma California Steam… Eu tinha uns estilos totalmente esquisitos e usava às vezes uns lúpulos que hoje nem são tão esquisitos, mas na época eram desconhecidos por aqui. E Ribeirão Preto ainda era interior, sem informação, todo mundo achava aquilo muito esquisito, muito estranho. Tinha uma fábrica grande com uma tradição grande lá, que era a fabrica da Antártica, o orgulho municipal.

Cilmara – E você escolheu Ribeirão por quê?

Marcelo – Eu escolhi Ribeirão porque eu ia pra lá, meu pai tinha uma terrinha lá, eu passava minhas férias lá, eu gostava da vida do interior

Cilmara – Não foi nada que te levou da fama da cerveja lá, nada…

Marcelo – Eu era diferente, eu era um carioca lá, era novo, tinha vinte anos, nossa, eu agradava…

Cilmara – Carioca em Ribeirão (risos). No início a Colorado era uma empresa familiar também…

Marcelo – Totalmente, era eu e minhas irmãs

Cilmara – E aos poucos você se tornou o único dono…

Marcelo – Isso, porque eu vi que fiquei totalmente infectado com o vírus da cerveja, que não é a cerveja, é mais que a cerveja. É um produto muito forte a cerveja. Ela une os povos. Se você pensar que construíram as pirâmides pagando os funcionários com cerveja…

Cilmara – É uma das bebidas mais antigas da humanidade, está por trás de tudo.

Marcelo – Isso, ela é uma das mais antigas. Na guerra, nas revoluções, sempre tinha a ração de cerveja para os soldados.

Cilmara (se entusiasmando risos) – Na arte. O que seria do pintor sem cerveja!

Marcelo (rindo muito) – Tem pintores regados a cerveja! Tem Bruegel! A cerveja é uma coisa muito forte senão ela não estaria na história da humanidade há oito mil anos! E ela surgiu espontaneamente em vários lugares do mundo! E a gente tem uma pegada, só um olhar europeu, mas os índios faziam a sua cerveja, os chineses faziam cervejas, têm uma história só deles. Nós no Brasil temos uma história só nossa, os índios faziam cerveja de mandioca e, infelizmente, não deixaram vestígio escrito… Essas bebidas fermentadas estão junto da humanidade há muito tempo, alguma razão evolutiva tem para isso acontecer.

Cilmara – Quando você incorporou nos rótulos que estão agora no mercado os produtos nacionais, a mandioca, o mel, a rapadura, tudo que você usa nos seus rótulos fixos, você quis de certa maneira conseguir fazer uma cerveja brasileira?

Marcelo – Isso. Foi assim “bacana, até agora eu copiei, eu aprendi bastante, tal. Agora chega, vamos fazer o nosso.” Porque é a cara do Brasil, nós também somos um país de imigração, todos nós temos um pé na Europa, e a partir de certo momento, a gente decidiu ser brasileiro aqui. A Colorado decidiu “vamos fazer cerveja com o que a gente tem em volta”. Os EUA fizeram assim e a Europa fez assim também. Os belgas fazem cerveja com açúcar de beterraba porque lá tem beterraba, os alemães têm a lei de pureza porque lá tem muito malte e lúpulo. Os ingleses fazem a cerveja deles muito maltada porque o malte deles tem algumas características e a gente tem que fazer a nossa cerveja com a nossa cara. A partir deste momento, em cada produto que a gente faz, tem um produto brasileiro, uma matéria prima local.

Cilmara – Você falou em fazer uma cerveja com a nossa cara. A Colorado tem uma das maiores marcas do mercado. A programação visual é muito boa, aquele ursinho é um sucesso quando aparece nas feiras e festivais, todo mundo quer tirar uma foto com aquele ursinho, que é um ursão na verdade… Eu queria que você falasse um pouco disso, como foi o desenvolvimento da marca e os rótulos, quem fez etc.

Marcelo – Quem fez foi o Randy Mosher.
Cilmara – Que é um dos maiores designers de rotulo do mundo.
Marcelo – E que eu descobri por acaso na internet. Eu já tinha lido os livros dele e estava falando com ele na internet sem me tocar que ele era o Randy que eu lia. O que foi uma vergonha porque eu quis ensinar padre nosso ao vigário, tentando explicar o que era uma India Pale Ale para ele… Mas aí…
Cilmara – Você encomendou o desenvolvimento da marca?
Marcelo – Dos rótulos. Falei pra ele que tinha essa idéia de colocar as coisas brasileiras, ele me deu outras idéias. Ajudou no desenvolvimento da rapadura me perguntando: “por que você não usa aquele açúcar brasileiro?”

Cilmara – Aaaahhh, ele entrou até no desenvolvimento da cerveja?
Marcelo – Sim, foi fundamental. Ele falou “aquele açúcar brasileiro” e eu “pô, qual açúcar brasileiro?” “rap rap rap.. rapadura!” “rapadura, cara, porra, genial! é mesmo!” (risos) Hoje um dos orgulhos da Colorado é que a gente comprava rapadura de 30 em 30 kg e hoje compramos 1ton de rapadura da mesma família, do mercadão municipal. A gente não compra de uma grande indústria, a Colorado é super ligada nessas coisas. A Colorado ajuda também a sustentar um cinema, que é o Cineclube Cauim de Ribeirão Preto, um cinema de uma tela de 35m, que é um cinema que tem sessão de graça pra criança, quatro vezes por dia, pra rede municipal de escolas da região. Este é um lado desconhecido da Colorado, que a gente nem se jacta muito disso.

Cilmara – Mas faz parte dos mandamentos do que seria a cultura da cerveja artesanal, né? A valorização da cultura local, do produtor local, os princípios básicos mesmo desse movimento, porque é um movimento.

Marcelo – Exatamente. A gente faz parte desse movimento. O Cineclube Cauim já existia antes da gente. Deixar isso claro, o Cauim é uma organização que existe em Ribeirão Preto há 25 anos. Eles têm um bar na porta do cineclube, tem vários movimentos culturais que vão lá, do cinema brasileiro, geralmente tem várias estréias lá, e os diretores debatem com o público depois do filme assistido.

Cilmara – Vange e eu fomos à Dogfish Head, no estado americano de Delaware, e em volta, na cidade toda, eles promovem peça de teatro, cinema, feira, showzinho, gente famosa em um palquinho bem pequeninho dentro do bar. Um clima super maneiro assim, de cultura e produção local.

Marcelo – É por isso que a cerveja é o rock de hoje em dia, é por isso que tem que haver as novidades, a gente não pode deixar vulgarizar. A cerveja artesanal tem que ter essa função social.

Cilmara – Eu sei que a Colorado sempre apoiou as Acervas e os paneleiros. É essa idéia de apoio geral de toda a teoria que existe nesse movimento

Marcelo – Em novembro, durante o Mundial de La Bière, a gente tava lá no Rio, mas mandamos vários barris vazios pro evento que estava tendo na Bahia, dos cervejeiros caseiros, para serem cheios em outras cervejarias, para poder ter cerveja de micro no evento dos nanos. E agora a gente tá marcando no aniversário da Colorado fazer outro encontro de caseiros e micreiros cozinhando juntos.

Cilmara – Legal. Você falou que compra quantas toneladas de rapadura atualmente?
Marcelo – Uma tonelada.
Cilmara – Quantos litros você produz hoje e quais são os planos pra 2015 porque eu sei que tem planos de expansão da fábrica, aí na mesma pergunta, tudo junto, hoje a empresa não é mais familiar, você deu uma profissionalizada na empresa. Fala sobre tudo isso, Marcelo…

E Marcelo vai falar. No próximo post… Não perca.

(continua no próximo post)

 

Festival Brasileiro da Cerveja 2015

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Novidades e Lançamentos

texto de Cilmara Bedaque com colaboração de Luciana Moraes

Começa hoje, dia 11, e vai até dia 14 de março, em Blumenau, o Festival Brasileiro da Cerveja. Considerado o maior do país, ele reúne, na Vila Germânia, as maiores cervejarias do país além de produtores, jornalistas, especialistas e consumidores que podem beber mais de 600 rótulos. Paralelamente acontece o Concurso Brasileiro de Cerveja que elege as melhores entre seus estilos e o II Concurso Randy Mosher de Design de Rótulos, criado pela Colorado.

Muitos lançamentos estão programados para estes dias de muita festa e trabalho acompanhados de uma rica programação artística e cultural, palestras e ótima gastronomia.

Conheça então alguns dos lançamentos que serão feitos em Blumenau:

Bodebrown
Terceiro lançamento da linha Wood Aged Series, a edição limitada da Belgium Tripel Montfort foi envelhecida por 12 meses em barricas de carvalho norte-americano, anteriormente utilizadas em vinhos Merlot. São somente 3 mil garrafas, safradas, numeradas e com a assinatura dos irmãos Paulo e Samuca Cavalcanti.

A receita original, criada pela Bodebrown em homenagem ao cervejeiro belga Jacques Bourdouxhe, ao passar pelas barricas de carvalho, usadas em vinhos da Serra Gaúcha, ganha corpo e estrutura, ideais para a guarda longa, de até 10 anos. As garrafas já estão à venda no site da cervejaria.

Para o FBC, a Bodebrown vai levar 27 tipos de chopp diferentes, mas a Cupulate Porter é a novidade da Bodebrown, uma colaboração com a Amazon e a De Bora Bier.
No estilo Porter, a bebida escura recebe adição de Cupulate da Amazônia, espécie de chocolate feito com semente de cupuaçu, no lugar do tradicional cacau.

DUM Cervejaria
A DUM apresentará uma série especial da Petroleum, com maturação em barricas de Amburana, Castanheira do Pará e Carvalho Francês. A série será vendida em chope e num kit com quatro garrafas – uma da tradicional e três que repousaram em diferentes madeiras. Esta série é uma parceria com a cachaçaria Porto Morretes, sediada no litoral do Paraná.

Serão colocados à venda no Festival apenas 100 kits. Após o evento, outros 900 serão comercializados em todo o país, pela distribuidora Beer Maniacs.

A DUM também trará ao evento sua coleção de copos de cristal, feitos artesanalmente na Cristal Blumenau, com quadro modelos, um para cada cerveja – Grand Cru, Karel IV, Petroleum e Jan Kubis.

O merengue de Petroleum, um doce criado em dobradinha pela Gelataio, marca de gelatos italianos conhecida pelo namoro com o mundo cervejeiro, traz recheio de claras em neve batidas com Petroleum e cobertura de chocolate belga.

Para completar, haverá uma coleção de 5 camisetas, decoradas com artes que prestam homenagem às quatro cervejas de produção constante da cervejaria, bem como uma da marca com o mote que a DUM adotou: “Aqueles que tiverem paciência serão recompensados”

Das Bier
Para o Festival Brasileiro da Cerveja, a Das Bier levará um lote pasteurizado, com edição limitada da Stark Bier, cerveja premiada em 2014.

Way Beer
A Way Imperial Mangue Stout, com 84 IBU’s (Unidade de Amargor), 10,7% de teor alcoólico, 6 meses de maturação e muitos quilos de malte torrado em sua receita.

Tormenta
Será apresentada no Festival a Tormenta Wit Bear, uma witbier clássica com 15 IBU (Unidade de Amargor) e 5% de teor alcoólico, que leva na receita trigo não maltado, cascas de laranja frescas e coentro.

Bamberg
A cervejaria de Alexandre Bazzo, de Votorantim em São Paulo, vai apresentar a Weizenbock Helles, maturada por 5 anos em barris de vinho tinto.

Invicta
A novidade é a Transatlântica Sour. Ela tem 6% ABV e leva cajá-manga na receita.

Weird Barrel 
Os paulistas apresentarão a Weird Barrel Bad Luck, uma fruit beer com frutas vermelhas. Será a estréia da cervejaria no Festival.

Experimento Beer
Um lançamento que não estará no FBC, mas vale ser comentado é a Saison Umbu, resultado da associação da Experimento Beer com a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), através do estúdio DoDesign-s

A Saison Umbu tem 10% da fruta em sua composição e 6,2% de álcool. A acidez, doçura e perfume do umbu equilibram-se com os aromas e sabores frutados, cítricos e condimentados desta refrescante Saison – estilo de cerveja originado na Bélgica que, tradicionalmente, inclui em sua produção ingredientes como sementes, especiarias e frutas. Lançada no 7° Festival Regional do Umbu, em Uauá/ BA, dias 6 e 7 de março de 2015, a cerveja está disponível, por enquanto na Coopercuc.

Lançamentos, festivais, festas, aniversários… Ufa! É fim de ano

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Meio de novembro e o fim de 2014 chega atropelando todo mundo. No meio cervejeiro artesanal não é diferente. Muitos eventos programados, certa euforia pelo crescimento do mercado e, ao mesmo tempo, uma incerteza quanto ao destino dos produtores artesanais que dependem de incentivos que esperamos serem aprovados pelo Congresso.

Mas vamos aos eventos:

Chegou a Cacildis™

A Brassaria Ampolis, que já produz a Biritis™, lança a Cacildis™. É uma pilsen leve e refrescante, com excelente bebabilidade e uma verdadeira porta de entrada para quem quer experimentar uma boa cerveja sem se assustar com doses elevadas de lúpulo e amargor. Feita para agradar o gosto do brasileiro que bebe cervejas da Grande Indústria, a Cacildis™ chega aos mercados em garrafas long neck e preço na base dos R$8,50. Mais de 600 pontos de venda receberão a Cacildis™ que deve se transformar na ponta de lança da Ampolis que tem o filho de Mussum, Sandro Gomes, como um dos sócios. Em breve este blog vai contar a história desta cervejaria que tem propostas sérias sem perder o humor.

15 anos da Cervejaria Wäls

Este ano foi mais que especial para os irmãos Carneiro, donos da Cervejaria Wäls. Muitos prêmios, a construção de uma nova fábrica e um bar de degustação marcaram o crescimento de seu negócio. Resolveram comemorar os quinze anos da Wäls com quinze dias de presentes para seus consumidores! Começa neste sábado, dia 15 de novembro e vai até o dia 29, uma super promoção de chope Wäls a sensacionais cinco reais! Pena que esta maravilha só pode ser viabilizada em seus domínios, mas é isto daí: cervejaria local. Então queridos habitantes de Belo Horizonte, aproveitem! A festa vai acontecer no Stadt Jever e no Tasting Room da Wäls. Aqui a programação.

Mikkeller série Brewed for Brazil

Esta semana estive no EAP (Empório Alto de Pinheiros, templo da artesanal em SP) para degustar os seis tipos de cerveja que a Mikkeller fez especialmente para o Brasil. Esta cervejaria dinamarquesa é conhecida pela sua originalidade e ousadia que fazem parte de suas receitas e de sua atitude como marca. Em uma união das importadoras Tarantino e Interfood, a Mikkeller chega para conquistar o Brasil cervejeiro artesanal. Promovendo a ação, os importadores levaram ao EAP o simpático Mixen Lindberg, diretor de pesquisa da Mikkeller que experimentou conosco as novas cervejas e contou um pouco da história da cervejaria. Voltaremos também a MIkkeller mais longamente neste blog.

Butantan Food Park

Este evento faz parte do lançamento da série brasileira dedicada ao Brasil feita pela Mikkeller. Os seis rótulos de cerveja, entre eles APA, Brett APA, Hoppy Larger, Coffee IPA, Session IPA e Hoppy Wit possuem graduação alcoólica média de 5%, excelente bebabilidade para o nosso clima pelo seu frescor. São artesanais, aromáticas, feitas com produtos naturais e sem uso de conservantes. Além da série brasileira, também poderá ser experimentada a famosa Mikkeller 1000 IBU, com 9,6% de teor alcoólico e 1000 IBUs (Unidade de Amargor). Esta medida de é mais uma maluquice da Mikkeller porque o paladar humano não consegue assimilar tanto amargor, mas o nome serve pra indicar que a 1000 IBU não veio para brincadeiras. Para forrar o estomago diante de tantas delícias, o Vinil Burger também vai participar do evento com sugestão de burgers e cervejas. É a boa do dia em SP. Butantan Food Park – Rua Agostinho Cantu, 47, Butantã Data: 15/11/2014 Horário: 11h às 22h Estacionamentos próximos ao local e para-bike interno.

Wikibier Festival

Este festival é para a alegria dos curitibanos e/ou pra quem puder chegar dia 15 de novembro por lá. Garanto que valerá a pena. Mais de 100 rótulos e 50 cervejarias participam do evento. Destaque para a Wensky Beer, de Araucária, que faz o lançamento da refrescante Malina, uma Fruit Bier de cor rose, feita de trigo e maturada com framboesas; a Cervejaria Invicta lança a Bavarian IPA que tem uma flor afrodisíaca em sua receita; a Bastards Brewery, com a Piná a Vivá, uma Imperial India Pale Lager,uma pedrada de 8,5% de teor alcoólico que não percebemos graças a seu equilíbrio e a nova Cervejaria Palta, que traz a XLager, que vem carregadíssima no lúpulo. O Wikibier será no dia 15 de novembro na Expo Unimed.Maiores informações aqui

Cervejaria Capitu

Neste concorrido 15 de novembro em SP a novíssima Cervejaria Capitu lança dois estilos de cerveja: uma Tilted Barn e uma Amber Ale. Ousadia dos arquitetos e mestres especialistas em cerveja, Frederico Ming e Marcelo Holl Cury que usam estilos menos comuns para o lançamento de sua marca. O evento especial será na Feira Gastronômica Comidinhas, das 13h às 20h, Rua Estados Unidos, 1626. Maiores informações aqui

Respeite a Mulher Cervejeira

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foto capa

Por que propagandas de cervejas são tão machistas? Se você pensa que mostrar mulheres peitudas e gostosas servindo cervejas a machos beberrões que se divertem no bar é coisa de brasileiro, saiba que está redondamente enganado. Comerciais e anúncios de cervejas são, em sua maioria, sexistas em qualquer parte do mundo.

Embora a feitura da cerveja tenha sido – desde sua origem e por séculos – uma tarefa quase que exclusivamente feminina isso começou a mudar quando as cervejas deixaram de ser feitas em casa e passaram a ser comercializadas em tavernas e pubs. A revolução industrial praticamente tirou a manufatura das mãos das mulheres quando a cerveja começou a virar negócio.

Se a cerveja era bebida e feita por mulheres desde os tempos mais remotos, por que hoje a indústria cervejeira faz tanto esforço para alijar a parte feminina do público consumidor? O marketing da Grande Indústria sabe dos números que apontam que cerveja é bebida mais por homens. Uma pesquisa da craftbeer.com sobre o mercado americano apontou que apenas 25% das mulheres do país consideram cerveja sua bebida alcoólica favorita. Podemos pensar o que veio primeiro: o ovo ou a galinha? Mulheres bebem menos cerveja porque não gostam mesmo ou porque sempre anunciaram a espumosa como “bebida para homem”?

Outro resultado dessa mesma pesquisa pode indicar um caminho: se considerarmos apenas o público amante de cervejas artesanais, a porcentagem de mulheres que dizem ser a cerveja sua bebida favorita cresce para 37%. A cultura cervejeira artesanal, por princípio e em geral, valoriza produtos locais, faz parcerias para ajudar suas comunidades, não tem ganas de distribuição de massa e, aparentemente, tem maior potencial para atrair mulheres, tanto para a produção como para a comercialização e apreciação de suas cervejas.

Mesmo assim, o meio cervejeiro artesanal é predominantemente masculino e ainda traz resquícios do sexismo herdado da Grande Indústria e que estão na memória de todos. Abundam imagens de gostosas e pinups nos rótulos e no marquetismo baseado no “sou macho, bebo cerveja forte pra pegar mulher”. Por exemplo: ainda que traga uma gordinha no rótulo, a cerveja Gordelícia cai na vala fácil da exposição da sensualidade da moça, assim como a Refrescadô de Safadeza. Note-se que são duas ótimas cervejas, mas que no conceito ficam bambas entre a piada botequeira e a fórmula “macho bebe, mulé estimula”. As americanas da Acme e da Lagunitas (deliciosas) também gostam de estampar pinups em suas garrafas. Vale lembrar que o comercial da Colorado para sua cerveja da Copa foi considerado machista e bastante criticado, não apenas por garotas, mas também por cervejeiros artesanais. Mas nada disso se compara ao machismo bruto das ações da Grande Indústria, que usa e abusa do corpo da mulher para vender cerveja.

Para nosso alívio, a maior parte dos rótulos das artesanais é neutra e não explora a sensualidade da mulher. Nem sugerem que elas permaneçam como espectadoras, serviçais ou estimuladoras. Alguns vão além e chegam a ser quase feministas, como a gaúcha Maria Degolada, feita em homenagem a uma mulher vítima de violência machista.

Mas a questão é: se a Grande Indústria toma como base seu público 75% masculino, as artesanais – que contam com maior público feminino – não deveriam ignorar seu 37% de apreciadoras, cifra que provavelmente cresce a cada ano. Uma boa maneira de atrair mais mulheres para suas cervejas é passar a respeitá-las como bebedoras de cerveja. Ah, e é bom lembrar também que já existem muitas mestras-cervejeiras no mercado e, como dissemos lá no início, fomos nós mulheres que inicial e secularmente fabricamos essa porra. Outra coisa a se considerar é que a Grande Indústria poderia focar em homens que não são idiotas e amam cervejas.

Ah! E se alguém vier comentar por aqui que nos falta humor garanto que nós somos muito bem humoradas e adoramos a companhia de mulheres e homens inteligentes.

Mensagem na Garrafa vol. 1

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gonzo capa

Quem aprecia cervejas artesanais já reparou no capricho dos rótulos. Nós, Lupulinas, vamos além e somos apaixonadas também por alguns contra-rótulos e textos que acompanham as estampas, explicando a origem e a inspiração das cervejas que vamos beber. Alguns são engraçados, outros são curiosos e informativos e há também os que beiram o pedantismo. Tudo motivo para um sorriso, um assunto, uma distração à mesa.

Este post é apenas o primeiro de uma série falando sobre contra-rótulos que achamos interessantes. Para os próximos, aceitamos colaborações. É só mandar a foto e dizeres da cerveja para o email lupulinas@lupulinas.com.br

St. Rogue Red Ale – Dry Hopped (Rogue Brewery, Oregon, Estados Unidos)
“Fukutsuru (1992-2002) R.I.P.
Por trás de uma grande cerveja existe um mestre cervejeiro e por trás de um grande bife há um touro. Fukutsuru (Fuku para os íntimos) é este touro. Primeiro do ranking norte-americano no quesito marmoreio*, Fuku é um touro wagyu japonês que deixou uma imensa prole responsável pelo fornecimento da melhor carne Kobe dos EUA e que vai bem com a St Rogue Red.
Mais de 50.000 amostras do sêmen de Fuku estão congeladas para futuras inseminações. Em seus últimos dias de vida, deram a Fuku a chance de “socializar” com algumas vacas mais novas. Em vez disso, ele preferiu tirar uma soneca.
Nós dedicamos esta cerveja a Fuku – um desajustado (rogue) até o final.”

Wasatch Evolution Amber Ale (Utah Brewers Cooperative, Estados Unidos)
“Esta cerveja é parte do nosso protesto contra a tentativa da Assembléia Legislativa de Utah de obrigar o ensino do criacionismo nas escolas públicas. Acreditamos que Igreja e Estado devem permanecer separados, até mesmo em Utah. Esta amber ale apresenta um agradável início maltado, bem equilibrado com uma dose saudável de lúpulos Tettnanger. Foi engarrafada pela primeira vez em 2002 como cerveja não-oficial dos Jogos Olímpicos de Inverno.”

Paqui Brown (Cerveceria Tyris, Valencia, Espanha)
“Paquita Brown vive al limite. Sólo bebe cerveza sin filtrar, directa del fermentador. Paqui pasa lúpulo de contrabando, sólo las mejores cosechas. Esta botella contiene su receta favorita. Una brown ale, dulce, cremosa e intensa, monovarietal de Simcoe, sin tontérias. Paqui desfruta de cada cerveza como si fuera la última.”

X Black IPA / Hi5 (Cervejaria 2cabeças, RJ, Brasil)
“Sabe aquele dia que você quer receber uma porrada no paladar? Lembra daquelas cervejas sem graça que você conhece? Agora esqueça! Esta é uma cerveja escura e intensa, com doses cavalares de lúpulo americano e um toque de malte torrado que criam uma cerveja refrescante e única. NÃO É PARA OS FRACOS.”

Green Cow IPA (Seasons Craft Brewery, RS, Brasil)
“- de doce já basta a vida -
Arte e revolução em estado líquido. Uma American India Pale Ale feita com quantidades absurdas de lúpulo, produzida para quem gosta de amargor com frescor e sem frescura. Abrir em momentos onde tudo que você quer é fazer cara de “meu deus do céu, o que é isso!?”

Gonzo Imperial Porter (Flying Dog Brewery, Maryland, Estados Unidos)
“Certa vez Hunter S. Thompson disse “Quando a parada fica estranha, o estranho vira profissa”. Taí nossa versão profissa da Gonzo Imperial Porter. Envelhecida e maturada por três meses em barris de madeira de uísque, esta ale tem um sabor bem equilibrado e um exagero de personalidade. (…) Gente boa bebe cerveja boa.”

Tokyo (Brewdog Brewery, Escócia)
“Esta cerveja é inspirada no arcade Space Invaders, de 1980, sucesso na capital japonesa. A ironia do existencialismo, a paródia do ser e as contradições inerentes ao pós-modernismo sugeridas por esse game de ação foram cuidadosamente recriadas no conteúdo desta garrafa.

Biritis (Brassaria Ampolis, RJ, Brasil)
“Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, seria um dos maiores brasileiros vivos se não nos tivesse deixado para se tornar um dos maiores brasileiros da História. Toda essa importância nunca foi ‘devidamente’ reconhecida. Até agora. A Biritis é mais que uma cerveja, é uma homenagem e um presente da família do Mussum – que tem cerveja na veia – para os apreciadores de uma boa risada e uma bela cerveja.”

Maria Degolada (Cervejaria Anner, RS, Brasil)
“Esta cerveja faz uma homenagem ao local onde a cervejaria Anner teve origem: a vila Maria da Conceição, em Porto Alegre, sul do Brasil, conhecida pela lenda da Maria Degolada. Maria Francelina Trenes foi degolada por ciúmes em 12 de dezembro de 1899 pelo seu namorado, um policial militar. No local de sua morte foi colocada uma lápide, onde ao redor cresceu a vila da Maria Degolada, protetora dos que tem problemas com a polícia e considerada uma santa pela população local.
- Agradeço pelas graças alcançadas – ”