Lúpulos da Patagônia na Bodega Cervecera

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Há poucos meses, a BJCP (Beer Judge Certification Program) homologou um novo sub-estilo de cerveja que significa uma vitória para os cervejeiros artesanais latinoamericanos: a IPA Argenta. Mas no que essa nova IPA difere das demais? Basicamente, a IPA Argenta se caracteriza por usar em sua composição maltes pilsen e de trigo (cereal muito cultivado pelos hermanos) e lúpulos da Patagônia Argentina.

Nós, Lupulinas, fãs confessas do estilo India Pale Ale, resolvemos aproveitar o feriado para visitar a bela Buenos Aires e, de quebra, provar a novidade. Amigos, a IPA Argenta não nos decepcionou.

Ainda difícil de encontrar nos bares especializados, demos sorte de encontrar três garrafas de IPA Argenta produzidas pela cervejaria Dust. Muito bem equilibrada, esta IPA leva lúpulos Nugget, Cascade, Mapuche e Victoria (todos plantados no sul da Argentina), é razoavelmente maltada e tem um teor alcoolico de 5,6% e 45IBU, fazendo dela uma cerveja leve e com bastante “bebabilidade”.

Ela é mais seca que as IPAs americanas e tem corpo mais leve que as inglesas, tendo em comum com elas os aromas cítricos, herbáceos e florais, dependendo da proporção e do modo como são adicionados os lúpulos.

Bebemos esta IPA Argenta, produzida pela Dust, num boteco sensacional aberto há um ano no bairro de Palermo, em Buenos Aires. É o Bodega Cervecera que mantém com destaque a boa fama dos bares portenhos. O ambiente é pequeno, com mesas na calçada e um segundo andar bem confortável. O estilo é rústico e meio improvisado como os bons botecos são. Sente-se que ele está sendo criado pelo tempo, por seus donos e frequentadores.

No dia que fomos a TV estava ligada na semifinal da Copa dos Campeões e vimos o Chelsea ser eliminado pela Atlético de Madrid e os outros clientes do bar festejarem a final madrileña. Terminado o jogo, o preponderante classic rock invade o ambiente como em todos bares de artesanais que fomos aqui em Buenos Aires. O clima fica ótimo.

Apos experimentarmos a IPA Argenta resolvemos continuar na viagem e comparar as outras IPAs poduzidas por nossos vizinhos. Aconselhadas por Alícia (a melhor garçonete do mundo) partimos para a American IPA da Triskell Brewing Co. com 7% de graduação alcóolica e 70 IBU. Uma garrafa linda de 750ml, com elefantes raivosos no rótulo e produzida com double dry hopping. Ela é bem maltada mas com lupulo muito presente. Uma pedrada. Das boas.

A Bodega Cervecera não tem muitas torneiras, mas tivemos o prazer de experimentar a Black IPA da Cork que não nos decepcionou. Redonda, bem feita, ela fica magnífica com azeitonas pretas que Alícia providenciou. Alias, seguindo a tradição de bares europeus, a Bodega não tem cardápio de petiscos ou pratos. Improvisa-se queijos e azeitonas só pra você não sair de lá dando PT (Perda Total ;)

Completamos o trabalho com uma Frausen IPA que achamos bem normalzinha, bem feita mas sem nada que nos chamasse mais a atenção. Uma IPA mais floral que herbácea ou cítrica.

E assim saimos do Bodega Cervecera felizes da vida por termos experimentado a IPA Argenta e por termos conhecido um boteco dos bons. Aquele que os locais passam na sua hora e são muito bem recebidos por Alícia que sabe o que eles gostam.

Bodega Cervecera
Rua Thames, 1759 (entre a El Salvador e a Costa Rica)
Palermo Soho, Buenos Aires
tel.: 5411-48333770
aberto todos os dias a partir das 18hs

todas as fotos de Cilmara Bedaque

Cerveja no Aconchego: um papo com Edu Passarelli

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educapa

Nós, Lupulinas, nos interessamos e lemos sobre cerveja artesanal há quase quinze anos. Quando estávamos no meio deste processo, um cara que escrevia sobre artesanais nos chamou a atenção com seu blog e seu bar. O nome dele é Edu Passarelli que mantém o blog EduRecomenda e também abriu bares bem legais neste tempo. Atualmente ele é sócio na filial do restaurante e bar Aconchego Carioca aqui em São Paulo, famoso por sua carta de cervejas e sua cozinha com receitas brasileiríssimas e originais. Afinal, um bolinho de feijoada é um bolinho de feijoada \o/ No papo com Edu falamos sobre as cervejas e o Aconchego e que bom! Edu continua um bom papo e um cara que entende do negócio.

Lupulinas: quando e por que você começou a se interessar por cervejas?
Edu: em 1998 eu abri uma pizzaria na Vila Madalena, chamada Giotto. Nessa época, como todo bom brasileiro, eu me achava um conhecedor de cervejas, tipo “a Brahma de Agudos é melhor que a de não sei onde, a Skol em lata é melhor que em garrafa”, essas balelas que hoje a gente sabe que são tudo lenda urbana. Aí chegou a Erdinger no Brasil e um bar do outro lado da rua da pizzaria começou a vender Erdinger e chopp da Universitária, que era de Campinas. Aí eu fui lá, provei e achei tudo diferente.

Lupulinas: você nunca havia bebido importadas?
Edu: sim já, mas vinha muita importada em lata pro Brasil, tudo pilsen. Era mais para colecionadores do que para apreciar. Talvez eu nunca tivesse bebido uma cerveja prestando atenção nela. Eu ia ainda naquele conceito, que muita gente até hoje tem, que cerveja quando foge do estilo pilsen (ou pseudo pilsen como tem aí no mercado) é ruim. Aí fui percebendo que cervejas poderiam ter vários aromas, sabores, rituais de serviço e então comecei a pesquisar, comprei livros, guias de cervejas, comecei a marcar “essa eu tomei, essa outra eu quero experimentar”. Quando os amigos iam viajar, eu pegava meu livrinho e pedia “opa, se achar, traz essa cerveja pra mim”, e quando viajava ia visitar cervejarias e bares para conhecer.

Lupulinas: você então começou como autodidata?
Edu: sim, experimentar cervejas foi um hobby meu durante um tempão. Mas em 2002 eu vendi a pizzaria e fui estudar gastronomia com o intuito de empreender de novo (minha formação é de administração). Estudei gastronomia não para ser chef de cozinha, mas para conhecer melhor o funcionamento da coisa. Como eu já gostava de cerveja, comecei a falar de cerveja na faculdade e dessa história de harmonizar cerveja com gastronomia. Aproveitando que era um assunto novo e pouco se falava sobre o assunto no Brasil acabei fazendo meu TCC sobre o tema. Depois fiz uma pós-graduação de gestão de serviços de alimentação e ali fiz um projeto de um bar harmonizando cervejas e gastronomia, que viria a ser o meu próximo empreendimento, o bar Melograno.

Lupulinas: nessa época que você começou a fazer o blog Edu Recomenda?
Edu: o projeto do Melograno estava guardado e em 2005 comecei a escrever o blog, que ajudou a me projetar. Começaram a surgir convites, fui chamado pra ser jurado do primeiro concurso da Acerva carioca, no final de 2006. Foi engraçado, porque eu pensei “puxa, tomar cerveja caseira, vou levar engov, sal de frutas, porque isso deve ser terrível”, mas quando eu encontrei a galera e fui provando as cervejas, percebi que elas eram boas e resolvi me dedicar um pouquinho mais, fiz um curso de sommelier de cerveja do Senac. Como havia só uns quatro blogs de cerveja naquela época, eu fui me destacando cada vez mais. Eu era convidado para dar palestras e fui escrever na revista Prazeres da Mesa.

Lupulinas: eram poucos os espaços para se falar de cervejas artesanais, né?
Edu: sim. Era um mercado de nicho (hoje ainda é, mas maior) e, por exemplo, numa palestra para empresas, eu levava umas cervejas mais “diferentes” e as pessoas não gostavam. As pessoas nunca tinham visto aquilo. Hoje em dia, por exemplo, você chega numa palestra e fala da Colorado, todo mundo conhece.

Lupulinas: e como foi a volta aos empreendimentos gastronômicos?
Edu: chegou um ponto em que eu decidi que precisava voltar, fui atrás de amigos que quisessem investir e, em 2008, tirei o projeto do papel e abri o Melograno na Vila Madalena. Eu fiz todo o cardápio e aproveitei minha experiência da pizzaria pra fazer uma forneria, onde eu poderia ousar um pouco mais nos ingredientes e brincar com essa história de harmonização com cervejas, o que não fugia muito do meu domínio.

Lupulinas: o Melograno foi dos primeiros bar/restaurante com cervejas artesanais em São Paulo?
Edu: sim. Existia só o Frangó, e eu tive que aprender na marra a lidar com o mercado e o começo do Melograno foi bem difícil por causa disso. As pessoas entravam, se sentavam, pediam a carta de cervejas, viam aquele monte de rótulos e perguntavam “não tem cerveja normal?”. A vontade era dizer “essas é que são as cervejas normais!” (risos). Mas depois que ganhamos o prêmio da Veja de melhor carta de cervejas de São Paulo, o mercado e o público começaram a prestar atenção na gente e o Melograno começou a andar. Começamos a atrair um público que não é de beergeek, mas aquele que gosta de apreciar e experimentar novas cervejas.

Lupulinas: quais as dificuldades para manter uma boa carta de cervejas? Como é a negociação com produtores, distribuidores e importadores?
Edu: então, aqui no Aconchego Carioca SP temos uma carta com 150, 160 cervejas e trabalho para termos pelo menos 90% delas disponíveis sempre. Ainda é um mercado difícil para os importadores porque algumas vezes a carga fica parada no porto, por causa da burocracia e etc. Eu costumo dizer que, para ter quantidade de rótulos, basta ter dinheiro, porque é só procurar no Google que você acha todos os fornecedores, vai lá e compra. Mas para ter uma boa carta de cervejas, você tem que ter seleção de produtos, uma seleção adequada ao conceito do bar/restaurante. Se eu quero ter uma mega loja de cervejas a seleção é uma, se eu quero ter um restaurante de vinte lugares é outra, e por aí vai. Outra coisa importante: você tem que ter um serviço adequado, o que não é fácil, você tem que ter giro desses produtos (já que a maioria das cervejas é boa quando fresca), e você tem que ganhar dinheiro com isso. Então precisa saber como manter estoque, calcular o giro, saber a hora certa de comprar e vender, as margens corretas de lucro para trabalhar cada produto, saber quando fazer uma promoção, etc. Inclusive, o curso que dou na GV sobre Negócios da Cerveja envolve todas essas questões.

Lupulinas: quantos prêmios você já ganhou com suas cartas de cerveja?
Edu: entre o Melograno e o Aconchego Carioca SP eu já ganhei 6 prêmios de melhor carta de cerveja.

Lupulinas: então vamos falar do Aconchego. Você falou tanto em conceito… Qual o conceito do Aconchego?
Edu: a nossa missão é trazer pra São Paulo aquele conceito do Aconchego Carioca original, do Rio de Janeiro, o do botequim. O botequim tem muito a presença do dono, é um lugar que tem alma ou aonde vai se criando a alma.

Lupulinas: os sócios são você, o André (Clemente) e a Kátia (Barbosa) no Aconchego/SP?
Edu: sim. A Kátia já era minha amiga há um tempão. Eu a conheci quando o pessoal da Acerva levou os jurados para comer no Aconchego Carioca/RJ. Aí minha esposa, Carol, tava numa mesa separada e ficou me chamando “amor, amor” e eu não ouvia. Foi quando a Kátia chegou nela e perguntou “quem é que você tá chamando, como é o nome dele?”. Minha esposa respondeu “Edu”. E a Katia então disse “deixa que eu vou te ensinar como faz” e berrou “Porra, Edu!”. Aí eu olhei pra elas e a Kátia mandou “Vagabundo a gente trata assim” (risos). Depois disso, ela ficou muito amiga da Carol e nós acabamos criando uma amizade bem grande. Depois de um tempo que eu saí do Melograno, encontrei a Kátia no Aconchego/RJ pra beber e conversar e ela disse que tava interessada em abrir um Aconchego em SP. Aí, fechou. A gente chamou o André, que já conhecia bastante sobre cerveja, escrevia sobre cervejas na Prazeres da Mesa e na Gula e sentamos para planejar o Aconchego Carioca SP. Nosso trabalho era trazer toda a alma do Aconchego/RJ para o Aconchego/SP. A primeira coisa que a gente decidiu é que não teria arquiteto, pra não ficar muito “arrumadinho” e colocamos alguns elementos que caracterizavam o Aconchego/RJ, como as redes no teto. Mas principalmente, a cozinha da Kátia. Hoje, o Aconchego/SP já está com esse jeito de boteco, do cliente que sempre volta,que  chama o garçom pelo nome e o garçom já sabe o que o cliente bebe. Isso que faz a alma do boteco.

Lupulinas: nossos leitores vivem perguntando por que a cerveja artesanal brasileira é cara. O preço delas vai baixar?
Edu: Eu acho que o preço hoje em dia já está melhorando, mas não vejo como a cerveja artesanal brasileira poderá ficar mais barata que a importada. A cerveja artesanal brasileira pode até baratear, mas a importada vai baratear junto. As cervejarias artesanais brasileiras não têm nenhum tipo de incentivo, salvo algumas ações em outros estados como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina que nos últimos anos reduziram o ICMS para as pequenas cervejarias. Mas se a gente for comparar com Estados Unidos, lá uma artesanal custa o triplo de uma Budweiser, por exemplo. E se a gente for a um supermercado no Brasil, a gente encontra uma Way a 7 reais e uma Heinekken a 2,50. É mais ou menos a mesma proporção.

Falamos só com o Edu desta vez, mas o Aconchego é a perfeita fusão entre os três sócios. Dia desses as Lupulinas entrevistarão também André Clemente e Katita Barbosa, a prosa mais carioca e uma das cozinhas mais gostosas deste nosso imenso Brasil. Ah! O prato executivo servido no almoço de todos os dias é imperdível.

 

Aconchego Carioca SP
Alameda Jaú, 1.372
(011) 3062-8262
terça a sábado : 12h à 0h
domingo : 12h às 18h
segunda : 18h às 23h

 

fotos de cilmara bedaque (exceto as de divulgação)

 

Diário de Bordo – Festival da Cerveja parte 1

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bodebrown stande

O Festival da Cerveja, em Blumenau, começou para nós na noite anterior com o lançamento da incrível Frosty Bison, a primeira American IPA da cervejaria local Eisenbahn. O novo rótulo é uma receita ganhadora do 4º Concurso de Mestre Cervejeiro, realizado anualmente pela cervejaria que, desta maneira, apresenta novos e promissores profissionais ao mercado.

A Frosty Bison foi criada pelo cervejeiro Fabert Araújo, presente ao evento, um cara simpático que costumava fazer suas receitas em casa..

Para acompanhar a nova American IPA a Eisenbahn lançou um copo especial, semelhante ao ~copo mágico~ da Dogfish Head porém um pouco menor. O copo ressalta as qualidades das IPAs e esta deve ter sido a razão para seguir os passos da cervejaria americana. Infelizmente os copos não estarão à venda. Mas atendendo a pedidos dos consumidores, a Eisenbahn resolveu envasar sua Frosty Bison em garrafas de 500ml: mais sabor em maior quantidade. Elas chegarão ao mercado ao preço de 16 dilmas.

O aroma dos lúpulos americanos da Frosty logo aparece. A espuma da cerveja é boa, consistente, o sabor é amargo-cítrico e corpo, leve e sem arestas. Mais uma ótima IPA artesanal brasileira para festejarmos.

Ah, e vale destacar o bar-fábrica da Eisenbahn. Comprada pela Kirin Brasil, a cervejaria mantém a filosofia das artesanais. Do bar, através de um vidro, podemos acompanhar todo o processo de feitura de suas cervejas. Se for a Blumenau, não deixe de visitá-la. Imperdível.

No dia seguinte fomos convidadas para o almoço no The Basement Pub que apresentou seu novo cardápio de burgers e hot-dogs. O bar pertence aos ex-proprietários da Eisenbahn, que agora se dedicam a produzir os tradicionais queijos fundidos de Pomerode. Deliciosos, aliás. Adoramos os hambúrgers, os queijos e as artesanais que os acompanharam. Outro pico para explorar em Blumenau.

O Primeiro dia do Festival

As Premiadas

Às 21 hs, muita alegria e comemoração com a premiação das 23 cervejas que receberam medalhas de ouro. Elas passaram de 80 pontos na avaliação geral e foram coroadas como melhores do Brasil nos seus estilos. A Stout Açaí, da Amazon Beer, recebeu 91 pontos entre os 100 possíveis e foi eleita a melhor cerveja do país.

Outro resultado muito comemorado foi o bicampeonato da Bodebrown, de Curitiba, que foi eleita de novo a melhor cervejaria do país. Foram 10 medalhas:  uma de ouro, seis de prata e três de bronze. Em segundo lugar ficou a Brasil Kirin com os premios da Eisenbahn e Baden Baden. E em terceiro a Gauden Bier, com os rótulos da Dum, Morada Etílica, Pagan e seus proprios de fábrica.

A cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto (SP), foi a que mais acumulou medalhas de ouro. Foram três: Colorado Ithaca, Colorado Vixnu e Colorado Ithaca Oak Aged.

Os lançamentos

A Baden  Baden, de Campos do Jordão, lançou uma levíssima Witbier. Com toques de coentro e aroma de laranja, estilo belga, esta Witbier é bem refrescante.

A cervejaria Wäls, de Belo Horizonte, preparou uma cerveja para nossa temperatura tropical: a Session Citra com um rótulo bem esperto.

A Schornstein, de Pomerode, apresentou a Blanche de Maison, uma Witbier clássica com coentro, laranja, tangerina e limão siciliano. De cara, arrebatou a medalha de prata de seu genero. Aliás, a Schorstein ganhou ouro com a sua magnifica IPA, já no mercado.

A Morada Cia Etílica, de Curitiba, mostrou a Hop Arábica, unindo o melhor da cerveja e do café.

A Dama Bier, de Piracicaba apresentou a Imperial Coffee IPA, com 9% ABV e adição de café de São Paulo.

A Way Beer, de Curitiba, levou a linha Sour me Not, composta inicialmente por três cervejas com frutas (morango, acerola e graviola).

A Baldhead, de Porto Alegre, fez sucesso com a Kojak IPA.

A Bamberg, de Votorantim, levou barris de  Franconian Raphsody, uma gostosa helles defumada.

A gaúcha Seasons agraciou os amantes de lúpulo com a XXXPA servida em chope. Nosso olhar também foi atraído pelas descoladas camisetas da cervejaria que – parabéns, Leo! – levou ouro pela Cirillo, prata pela Pacific e bronze pela Holy Cow.

Outro estande que nos chamou a atenção foi o da Lake Side, cervejaria que trabalha sem glúten e faz diversos tipos de cerveja. De cara levou o Ouro pela Crazy Rye. Em breve faremos um post só sobre esta cervejaria corajosa e criativa.

A campeã Bodebrown, de Curitiba, lançou um vídeo mostrando tudo o que vai levar para o festival. São 2 mil litros de cerveja em 18 rótulos, sendo que 5 deles envelhecidos em barris por até 18 meses. Assista ao vídeo:

 Destaques

Mais uma delícia que degustamos: a Coruja Labareda, que o talentoso Rafael Rodrigues nos apresentou com sua simpatia característica. Uma cerveja com pimenta, complexa, que traz alegrias aos sentidos e pede outro gole na sequência.

A alegria de beber mais uma vez a maravilhosa Funk IPA, da Cervejaria 2Cabeças, só não é maior que a de encontrar Maira Kimura e Bernardo Couto. Alias, parabéns pelas Medalhas de Bronze recebidas pela  Hi5 e a propria Funk IPA

Uma delícia também os sorvetes, feitos com cerveja é lógico!, da Gelataio de Curitiba.

Enfim, são muitos rótulos diferentes e nunca conseguiriamos provar todos apenas numa noite. O festival prossegue até dia 15 e no próximo post comentaremos sobre seu desfecho e as eleições para a Associação Brasileira das Microcervejarias.

Festival Brasileiro da Cerveja
Data/horário: 12 a 15 de março de 2014 (de 12 a 14 a partir das 19h e no dia 15 a partir das 15h)
Local: Parque Vila Germânica, em Blumenau (SC)
Mais informações: www.festivaldacerveja.com

In De Wildeman: o doce bar selvagem

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foto de cilmara bedaque

Os amantes da cerveja artesanal têm uma grande afeição por bares. Não comecem a esculachar. É que a maioria das cervejas artesanais bebidas in loco e não envasadas são mais saborosas e consistentes que as da garrafinha. Então um bom bar é coisa de se guardar como um bom amigo. Dessa maneira, temos uns preferidos por cidades que conhecemos e hoje vamos falar do In De Wildeman (O Selvagem), nosso queridinho em Amsterdam.

Ele fica no centro velho da cidade, em uma travessinha do calçadão da Nieuwendijk, rua comercial que sai do Dam Square. Não é muito fácil de achar, mas nem tão difícil assim. A generosidade do bar começa com uns bancos e umas mesinhas baixas pro povo do tabaco beber lá fora. Lá dentro 18 torneiras revezam as melhores artesanais e trapistas. Em seu cardápio outras duzentas e tantas cervejas disputam nossa atenção.  Além das belgas e holandesas, eles têm boas opções da Grã-Bretanha, Estados Unidos e Alemanha.

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O prédio do bar era uma antiga destilaria e foi conservado o ambiente rústico, com madeira, tonéis pelas paredes, quadros, dísticos, flâmulas e todo e qualquer material que lembre uma boa cerveja. As  paredes cheias de recordações colocadas há mais de 20 anos, um piso xadrez preto e branco e moveis desgastados completam o clima e fazem o aconchego do bar. Em um dos seus ambientes, uma estante com guias e anuários sobre cerveja ajudam a você escolher o que beber. Mas se ficar perdido com tanta opção, não se preocupe: o povo que trabalha no In De Wildeman é ótimo conhecedor de cerveja e te pergunta que gosto você quer sentir e ainda fica dando amostras (teasers) das torneiras pra não dar erro. Isso sem contar que são uns/umas holandeses lindos e bem humorados. E, se tudo isso te faltar, vai na opção “cerveja do mês ou da semana” que é impossível não ser deliciosa.

O In De Wildeman tem três salões pequenos em níveis diferentes e um balcão sem bancos. Você paga a cada cerveja que bebe para não dar confusão com o entra e sai constante. Se você preferir e/ou ficar mais tempo no bar, pode sentar-se à mesa e pedir a conta no final. Toda cerveja é servida em seu próprio copo e esta é uma atração a mais. Lá dentro não rola música, só o conversar dos grupos de amigos e mesmo de desconhecidos que começam um papo como se estivéssemos no Rio ou na Bahia. O que impera é o à vontade e a paixão pela cerveja.

Ele é freqüentado por muitos locais que vão à saída do trabalho, mas sua fama atrai pessoas de todo o mundo. Ao contrário de seu pessoal treinado e gentil, o dono não prima pela simpatia, preferindo fazer o papel de In De Wildeman (o selvagem), mas ele vai muito pouco pra lá. Está sempre a visitar cervejarias e destilarias da região pra trazer novidades para o bar.

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O IDW não serve refeições. Para acompanhar suas cervejas, eles oferecem embutidos deliciosos, queijos trapistas (excelentes, não deixe de provar) e amendoins ou similares. Mas se você tiver fome, no calçadão do bar tem fast food chines, um quiosque de batatas fritas inesquecíveis, cafés, burgers e restaurantes de churrasco argentino e um mais metidinho de cozinha internacional. Em frente ao bar tem um coffee shop para,se você quiser, fumar haxixe ou maconha, que são legalizados por lá. Amsterdam é hoje a única cidade holandesa onde a venda ainda é permitida a estrangeiros. Uma dica preciosa, porém: não intercale álcool e canabináceos: embora alguns possam estar acostumados à mistura, tanto a cerveja quanto a maconha vendida por lá podem derrubar um cavalo.

Em 2012 tivemos a sorte de mais uma vez passar pelo IDW nas comemorações do Jubileu de Prata do bar. Seu prestígio é tão grande que a americana Flying Dog, uma das cervejarias mais inovadoras do mundo, fez uma receita especial pra festejar o aniversário. E assim nasceu a edição limitada da Wildeman Farmhouse IPA, uma cerveja personalíssima com sabor de pão fermentado e bastante lúpulo. Remete às origens da feitura da cerveja e foi apreciada pelos profissionais do copo. Tivemos a sorte de bebê-la fresquíssima na torneira e também engarrafada nos Estados Unidos. A Flying Dog fez um filme promocional comemorando o Jubileu e acrescenta que ela “tem gosto de insanidade”.

Enfim, o In De Wildeman é um dos cantinhos bons que existem pelo mundo e, se você tiver oportunidade de conhecê-lo, não deixe para depois. Ah! dentro do bar funciona um competentíssimo wi-fi.

PS >>> Este post dedicamos ao Nick que sempre nos serviu com alegria e à holandesa JJ.

Serviço:
Kolksteeg 3 1012 PT Amsterdam – http://www.indewildeman.nl/
Abre das 12h00 às 2h00, exceto segunda, aberto só até a 1h00.
Fecha aos domingos.

Yes, nós temos cervejas!

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fotos: cilmara bedaque

Muitos leitorxs nos perguntam qual é a cerveja boa. A resposta é muito difícil porque existem muitas cervejas sensacionais pelo mundo todo e, além disso, essa opinião envolve preferências e momentos. Sem contar que, enquanto escrevemos este post, mais e mais brejinhas estão sendo inventadas pelos mestres artesanais \o/

Um lugar na Vila Madalena nos chamou a atenção o ano passado porque, além de vender só cervejas artesanais brasileiras, o seu dono – Oliver Buzzo – traz com orgulho essa proposta no slogan do bar: De Bruer – 101 cervejas brasileiras.

Unindo o agradável com o melhor ainda ;) resolvemos conversar com o Oliver bebendo algumas brasileiras que, quando vocês encontrarem, não deixem de experimentar. É uma pequena lista com estilos diferentes de cerveja e que não pretende ser um ranking das melhores. É só a constatação que a artesanal brasileira está em um nível que não tínhamos há três anos.

Lupulinas: Bares especializados em cervejas artesanais normalmente oferecem também cervejas importadas. Seu bar é o único que conhecemos que vende apenas artesanais nacionais e inclusive faz disso um slogan.
Oliver: Essa proposta é única do Brasil, pelo que eu acompanho. Mas acho que esse ano mais um maluco resolve abrir um bar só de nacionais artesanais.

Lupulinas: E por que ninguém mais faz isso?
Oliver: Porque ninguém acreditava que era possível. Falei com muito dono de bar e os caras me falavam “cara, não é possível, o público quer cerveja importada e não existem tantas cervejas artesanais brasileiras boas como as importadas”. Eu abri o De Bruer no final de novembro de 2012 e naquela época era essa a realidade mesmo, havia poucas artesanais brasileiras.

Lupulinas: O que você fazia antes de abrir o bar?
Oliver: Eu era home brewer, mas nunca fui um bom cervejeiro (risos). Mas eu tava no meio da moçada. Eu criei uma webTV  (2011/12) e no meu tempo vago eu gravava em vídeo a atividade da moçada. Aí, porque eu estava no meio cervejeiro, eu saquei que tava muita coisa acontecendo e que viria muita cerveja artesanal brasileira em 2013 e que seria possível o bar viver disso. E foi o que aconteceu. Em meados de 2013 apareceu um monte de cerveja boa e o bar se sustenta apenas com as brasileiras.

Lupulinas: Uma das reclamações que a gente ouve dos produtores e também dos donos de bar (as duas pontas do negócio) é a distribuição precária. Como você percebe esse gargalo?
Oliver: Hoje, em São Paulo, capital, a distribuição está bem organizada. Só. Só existe um lugar no Brasil que você tem acesso às cervejas artesanais, principalmente brasileiras. Nem no Rio tem. Em Curitiba, onde a gente tem os maiores produtores de artesanais brasileiras, não tem uma cena de bares onde você possa tomar cerveja artesanal ou local. Todo mundo que tá distribuindo, tá em São Paulo. Mas é também porque o maior mercado consumidor de cervejas artesanais é aqui. Agora acho que a tendência é se espalhar para o resto do país.

Lupulinas: Nós somos um país enorme e existe essa “obrigação” de distribuir o produto para o Brasil inteiro, como faz a grande indústria. Mas isso meio que contradiz um conceito original da cultura cervejeira artesanal que é “consuma a cerveja local, da sua região”. O que você acha?
Oliver: Concordo. Mas aí conversando com os produtores, você ouve que “não conseguem vender” a cerveja que fabricam no local. Você vê uma cervejaria tipo Bamberg e nota que eles não conseguem vender para a população local, que não tem o hábito de artesanais. Aí a Bamberg manda tudo aqui pra São Paulo. São Paulo compra toda cerveja artesanal de Curitiba, um absurdo. Às vezes falta Bodebrown em Curitiba. E quando chega ao Rio, o preço é exorbitante.

Lupulinas (com o auxilio luxuoso de Pedro Alexandre Sanches): Você disse que em 2013 mudou tudo, mudou muito, como assim?
Oliver: Qual era o maior problema antes para as cervejarias artesanais? Pela legislação, os órgãos do governo não fazem distinção entre o cara que produz 100 mil litros de cerveja e um que produz 100 milhões. Então, para construir uma cervejaria, nossa, cara, você não acredita no nível de exigências que o governo faz. Tem que lidar com vários órgãos de governos nas três instâncias, municipal, estadual e federal. Uma loucura. Leva anos. Então, o que acontece? A produção de cerveja artesanal era um hobby muito caro. Se você olhar a 1ª geração de cervejeiros artesanais brasileiros, são todos “filhinhos de papai”, todos (sem querer desmerecer por isso). Porque o pai bancava, ou então era negócio da família de muitos anos. Custa milhões montar uma cervejaria, por causa do equipamento e da burocracia.
Em 2012 comecei a perceber uma segunda geração, de classe média, que queria entrar nesse negócio de fazer cerveja, mas que não tinha acesso. Esse pessoal, em 2013, encontrou um caminho, que é o cigano: eles alugam espaço ocioso em cervejarias que já existem e se tornam parceiros. Eles desistiram de brigar com os governos a cerca da carga tributária e passaram para esse esquema. Mas a questão burocrática depende também. Tem prefeituras que o cervejeiro conseguiu conversar com o poder local para conseguir incentivos e derrubar barreiras.

E foi assim. Temos assunto para muitos papos ainda e muita cerveja brasileira boa para experimentar. Vamos citar algumas que foram muito bem saboreadas naquela noite:

. Black Rye IPA (Bodebrown, PR)
Uma black IPA feita com malte de centeio tostado e que é um soco forte e seco. Uma preta que não é doce e é aromática. Não é rala, nem densa: o álcool diz “oi”, e os lúpulos, “beleza, fera”. Para beber lentamente. ABV 8,3  IBU 80

. Jan Kubis (Cervejaria DUM, PR)
Lançamento de 2013, uma lager sensacional da cervejaria curitibana DUM. Refrescante, leva muito malte de cubada e lúpulos cítricos. O nome é homenagem a um soldado tcheco que lutou na resistência contra a invasão nazista. ABV 5,3 IBU 52

. Green Cow IPA (Cervejaria Seasons, RS)
Provamos essa excelente IPA direto da torneira, durante o IPAday2013 em Riberão Preto. Agora, engarrafada e com um lindo rótulo fluorescente estampando uma vaca verde, ela continua deliciosa. Recomendamos.  ABV 6,2 IBU 62

. Hoppy Day (Cervejaria Tormenta, PR)
Em 2013 a Cervejaria Tormenta deixou de ser caseira para começar a engarrafar e distribuir. A Hoppy Day é uma Ale levíssima e refrescante (nos lembrou uma session IPA), com profusão de lúpulos cítricos e herbáceos. Passa por dry hopping. Com humor avisam no rótulo: “ATENÇÃO!  Como toda cerveja lupulada, ela deve ser consumida o quanto antes. Lúpulo fresco é sempre mais gostoso!” ABV 6,5 IBU 61

. 1000 IBU (Cervejaria Invicta, SP)
Não é novidade que a Invicta faz cervejas maravilhosas. Para comemorar dois anos de existência, a cervejaria se superou e lançou em 2013 a 1000 IBU, uma imperial IPA que é uma porrada de lúpulo. Surpreendentemente, o amargor da cerveja é bem distribuído e permanente, misturando-se muito bem ao álcool. ABV 8  IBU ? (embora mestres cervejeiros admitam q seja impossível um IBU acima de 100, o nome faz uma provocação a este horizonte infinito de amargor)

. Rauchbier (Cervejaria Bamberg, SP)
Rauchbier é na verdade um estilo de cerveja que, por tradição, leva maltes defumados, daí seu sabor que lembra levemente um bom pedaço de bacon. Esta rauch da Bamberg já ganhou muitos prêmios (inclusive  de segunda melhor rauch do mundo) e pode acompanhar uma feijoada ou um charuto (sério, já fizemos isso). ABV  5,2  IBU 25

. Witte (Cervejaria Wäls, MG)
Uma cerveja nacional de trigo feita à moda belga. De cor amarela, clara e turva, tem um sabor levemente cítrico e picante. Levíssima, é ideal para o verão e para acompanhar peixes e frutos do mar. ABV. 5 IBU 20

Ficou por último neste post, mas não é coisa pra ser deixada pra trás: a cozinha do De Bruer é excelente e faz a companhia perfeita para um bom papo, um lugar gostoso e cervejas com inúmeras possibilidades. Neste dia experimentamos um tapa delicioso e um hamburger de carne suína que fez nosso amigo Pedro Alex mais feliz \o/

DE BRUER

Rua Girassol, 825 – Vila Madalena – SP
Fone: (11) 3812 7031
Horário de funcionamento
Segunda a Quarta das 18:00h à Meia Noite
Quinta a Sábado das 16:00h à 01:00h
Domingo das 16:00h às 23:00h