La Trappe: um piquenique no monastério

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Fundado em 1884 em Tilburg, Holanda, o mosteiro Onze Lieve Vrouw van Koningshoeven fabrica a deliciosa La Trappe. Certificada com o selo trapista, a La Trappe é bastante acessível para quem quer provar na bica as receitas dos monges locais. Eles ressuscitaram a terra exausta de uma quinta do rei, que não proporcionava mais os bons frutos de outrora, e tornaram o local uma fonte de boas cervejas. Desde então a deliciosa La Trappe é servida ali e vendida ao mundo em garrafas com ingredientes puros e naturais: lúpulo, cevada, fermento e água da fonte de Koningshoeven (em holandês, “fazenda do rei”).

Por coincidência, visitamos a La Trappe num feriado – Dia da Rainha – e a cidade toda estava em festa. O sol deu as caras e a galera decidiu ir pra rua. Numa parte da cidade a rave comia solta, mas no biergarten da La Trappe a vida parecia um piquenique. Logo no estacionamento (não asfaltado) enxergamos quintilhões de bicicletas estacionadas, não apenas porque a cidade é plana e, como todas da Holanda, bicicleteira, mas porque ao lado do mosteiro há vastas áreas verdes de parques e trilhas para ciclistas. Deu até vergonha estacionar nosso automóvel alugado ali, mas enfim, estávamos numa longa viagem pelos monastérios que produzem cerveja trapista.

No jardim e na brasserie, que ficam ao lado do mosteiro, várias mesas coletivas recebem famílias, grupos de amigos, casais, ciclistas, gente comum e incomum, convivendo de boa. Um enorme gramado serve para estender toalhas ao estilo piquenique e as crianças brincam enquanto os adultos bebem. O clima geral é de risos, conversas animadas e confraternização. Não há garçons coletando pedidos. Quer beber? Adentre o salão das bicas, peça seus chopes e leve-os para mesa. Se quiser comer algo, peça ali mesmo no balcão e você receberá uma senha (na verdade um número estampado numa garrafa de madeira) e o prato chegará a você – para isso servem os garçons ali (e para recolher os copos e mais copos).

Mas vamos falar do que importa: as cervejas!

PUUR – refrescante e orgânica, ligeiramente frutada sem ser doce, perfumada, não filtrada,  ótima espuma que se agarra ao copo, levíssima e lupulada. Limpa a boca. Teor alcoólico de 4,7%.
TRIPPEL – com aroma de amêndoas e caramelo, parece ser mais leve que qualquer outra trippel trapista porque em sua receita são usados coentro e outras ervas. Seca com teor alcoólico de 8% é dourada e com grande permanência na boca.
ISIDOR – assim chamada em homenagem ao monge Isidorus, primeiro fabricante de cerveja da abadia, marcou os 125 anos da cervejaria em 2009. Agradou tanto que passou para a lista de tipos sempre oferecidos. Com 7,5% de teor alcoólico é uma ale âmbar, levemente adocicada com um toque de caramelo, que continua a fermentar após o engarrafamento e tem um sabor rico, ligeiramente amargo, embora frutado.
BOCK – ficou perfeita com o frango em molho de amendoim que a Vange pediu. É sazonal e única bock trapista feita no mundo. Tem uma cor vermelho escuro, um sabor intensamente rico e um aroma maltado. Variedades de lúpulo aromáticas e tipos de malte queimado tornam sua amargura delicada que combina surpreendentemente bem com o seu tom ligeiramente doce. Tem 7% de teor alcoólico.
DUBBEL – ficou maravilhosa com o burger da Cilmara. É marrom escura e com espuma bege. O uso de malte caramelo proporciona um toque aromático suave. É suave sem perder o corpo e intenso sabor. Tem 7% de teor alcoólico.
BLOND – Dourada cintilante, nem parece estar ainda fermentando na garrafa como todas La Trappe. Uma cerveja quase perfeita ao unir a complexidade de seu aroma e gosto à simplicidade de sua receita. Bons ingredientes e pronto. Amargor suave e 6,5% de teor alcoólico.

Infelizmente não bebemos lá a Witte de trigo e nem a envelhecida em barril de carvalho. O monastério também oferece tours para quem estiver interessado no processo de feitura da cerveja. Tem duração de 45 minutos, com degustação de algumas destas maravilhas ao final.

Turismo

Como estávamos circulando os países baixos de automóvel, nos hospedamos em Tilburg mesmo, num motel perto do mosteiro. Mas se você quiser estabelecer base numa cidade um pouco maior e com atrações turísticas escolha Rotterdam. De lá a Tilburg, onde fica a La Trappe, são apenas 50 minutos de trem – praticamente um pulo para quem freqüenta o trânsito brasileiro.

Rotterdam é bruta e linda. Uma das maiores cidades portuárias da Europa, ela foi massivamente bombardeada durante a Segunda Guerra. O esforço de reconstrução envolveu experimentos arquitetônicos e muitos prédios ali são bem malucos. A visita ao Kinderdijk, um canal com antigos moinhos, é obrigatória. A vista panorâmica da cidade e do porto, do alto da torre Euromaster, dentro de uma cabine que nos virava para todos os lados da cidade é incrível. Depois beber uma cervejinha, enquanto o sol se põe, completa o programa.

Ah, você ainda pode ter a er… sorte que tivemos e ver um povo praticando rappel na torre. Vistos de baixo eles pareciam bonecos pendurados na torre por alguma ação de marketing. Lá em cima, já no bar da Euromaster, vimos quando eles adentraram o ambiente pela janela. Em carne e osso. Cada um com seu esporte ;)

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