Dogfish Head: criatividade e sabor

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Quando alguém vai fazer turismo nos Estados Unidos, pensamos em destinos como Nova York, Miami e Califórnia. Que diabos nós, Lupulinas, fomos fazer no estado de Delaware? A resposta só poderia ser: beber cerveja. \o/

Quem assistiu a série Mestres Cervejeiros na TLC deve se lembrar das aventuras de Sam Calagione pelo mundo inteiro atrás de novas receitas e parcerias para sua cervejaria Dogfish Head (algo como Cabeça de Cação, embora o logo da cervejaria seja o cação inteiro). Pois foi para beber as Dogfish in loco, fresquinhas, que nós fomos parar em Delaware.

Em Washington DC, alugamos um carro e em pouco menos de 3 horas chegamos em Rehoboth Beach (pronuncia-se “rirrôbo”), um pequeno balneário onde fica o pub de Caligione. Antes atravessamos a Chesapeake Bay Bridge, uma ponte maravilhosa de 7 km de puro aço que separa os estados de Maryland e Delaware. Ficamos num hotelzinho barato a poucos quarteirões do bar, sabendo que iríamos freqüentá-lo em cada um dos três dias de estadia.

O ambiente do pub é acolhedor, a poucos quarteirões da praia de Rehoboth, com estacionamento para os clientes e WI-FI gratuito. Logo na entrada, uma lojinha vende cervejas engarrafadas e mercadorias promocionais: copos (inclusive o novo copo especial, desenhado para acentuar o aroma e sabor das India Pale Ale), camisetas, bolachas, flâmulas, abridores, camisetas e até coleira para seu cachorro! Os funcionários são atenciosos e gentis, sem aquela pressa característica do serviço das capitais. Entre freqüentadores, casais de todas as idades, orientações sexuais e famílias com crianças (ao menos durante o dia).

A comida é boa com pratos principais, sanduíches ou snacks. Além das ofertas ‘on tap’ (chopp) diárias, todas as cervejas da DH estão disponíveis em garrafas de 660ml ou em packs de seis de 330ml. Uma boa pedida é experimentar as sazonais, mais difíceis de encontrar no Brasil, ou então algumas receitas que a cervejaria não engarrafa, como a History of Past Years, feita a partir de pão fermentado, estilo Kvass, como as feitas na Europa Oriental do século 10. Para quem se preocupa com sustentabilidade, a cervejaria faz questão de propagandear seus esforços pró-ecológicos, usando ingredientes locais na manufatura de suas sazonais.

O som ambiente é rock’n roll e, nos fins de semana, o pub tem música ao vivo com bandas iniciantes e, às vezes, até artistas mais conhecidos e amigos de Sam que vão ali beber cerveja e dar uma canja. Morremos ao ver um cartaz que anunciava a passagem de Bill Callahan pelo pedaço. (Que tal, Lorena? *-*)

Mas, além do pub, é obrigatória uma visita à fábrica, que fica em Milton, ainda em Delaware, a 20 minutos de Rehoboth Beach, onde são produzidas diariamente 9.000 caixas de cerveja (24 garrafas em cada caixa), além das que vão direto para os barris de chope. Os tours podem ser marcados antecipadamente ou você pode arriscar chegar sem agendamento, esperar um pouco e se encaixar em algum grupo (12 pessoas por vez). Eles acontecem de hora em hora e são bastante informais, começando ali mesmo na recepção/loja, onde aprendemos o básico da feitura das cervejas e as particularidades de cada estilo.

O guia é descolado, conta a história da cerveja e da cervejaria. Lá ficamos sabendo que, fundada em 1995, o investimento colocado na DH só foi recuperado depois de 12 anos de muito trabalho e dedicação.

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Depois, adentramos a fábrica (única exigência é ir de calçados fechados e usar óculos protetores que eles fornecem ali mesmo) para ver em detalhes todas as etapas dos processos de cozimento, fermentação, adição de lúpulos e etc. Dez enormes tonéis de aço da altura de dois andares são impressionantes e comandados por três engenheiros que ficam no centro operando computadores que misturam todos ingredientes através de canículas espalhadas por todo o teto da fábrica. Isso sem falar no xodó de Sam: dois enormes tonéis de carvalho, à prova de bala ¯\_(?)_/¯ usados para dar um toque amadeirado em algumas receitas que passam por envelhecimento típico dos vinhos. Logo de cara é demonstrado o orgulho em fazer cerveja com malte de cereais que não milho, soja ou aveia, que fermentam muito rapidamente e por isso é usado pelas grandes cervejarias brasileiras. A fábrica, que começou pequena, hoje é completamente automatizada e continua a se expandir, sem perder sua vocação artesanal e sustentável. Até o bagaço descartado é reaproveitado e alimenta o gado da vizinhança e os kegs (barris de chope) são reciclados.

Vale ressaltar a escultura retrô-futurista Steampunk Tree, do artista Sean Orlando, que encontrou na entrada da fábrica da Dogfish Head morada permanente. É uma atração à parte e mostra o compromisso de Caligione com a arte, presente também nos rótulos de suas cervejas, simplesmente maravilhosos. Infelizmente, pelas leis estaduais, a fábrica só pode oferecer quatro “samplers” (copinhos de 100 ml) de suas cervejas a cada visitante. Ou seja: se você quiser continuar bebendo, terá que voltar ao pub ou comprar garrafas ali mesmo para levar para casa ou para o hotel (o que já é um bom consolo, difícil mesmo é não levar quase tudo que tem na loja).

Cervejas que experimentamos no pub e na fábrica da Dogfish Head:

- Namaste: fraquinha, sem revelar grandes surpresas além das notas cítricas. ABV 5 IBU 20
- Positive Contact: muito boa, lembra uma típica abadessa pela quantidade alcoólica e pela complexidade. ABV 9 IBU 26
- Province Windsor Ale: uma especial de primavera, amarga na medida, com álcool deliciosamente mesclado aos maltes ingleses escolhidos. ABV 8,2 IBU 44
- Aprilhop: uma IPA sazonal levemente frutada com toques de damasco, bem gostosinha. ABV 7 IBU 50
- 60 minute IPA: maravilhosa, bem fresca (na pressão, muito melhor que a engarrafada), um dos carros-chefe da casa e nossa preferida. ABV 6 IBU 60
- 90 minute IPA: uma Imperial IPA mais alcoólica, lupulada e pungente que a 60 minutes. ABV 9 IBU 90
- 75 minute IPA: simplesmente uma mistura das duas IPAs citadas acima. Coisas de Sam. -
Indian Brown Ale: uma Ale encorpada e com amargor na medida. Combinou bastante com a noite fria. ABV 7,2 IBU 50
- Raison D’Etre: próxima ao vinho na fermentação e na alma. Não gostamos muito por conta dos toques doces de uva passa, um tanto enjoativos. ABV 8 IBU 25
- Sah’tea: com forte gosto de chá, outra cerveja que não nos conquistou. ABV 9 IBU 6
- History of Past Years: Vange gostou e Cilmara, não. Azedinha, parece pão líquido. Cilmara acha boa para “limpar a serpentina”. ABV 4 IBU 2

*ABV= graduação alcoólica *IBU= amargor

Maiores informações sobre as cervejas, fábrica e tours, no site da Dogfish Head dogfish.com

PS: se você não quiser ficar só no turismo cervejeiro, Rehoboth Beach tem uma praia linda (ventosa e com mar bravo, mesmo em dias quentes) e mais de uma dezenas de Outlets com lojas famosas e preços abaixo dos cobrados nas capitais e grandes cidades dos Estados Unidos. A neblina por lá é tão característica que em um cruzamento no meio da cidade colocaram um farol. Mesmo. Desses que ficam no mar.

 

 

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13 thoughts on “Dogfish Head: criatividade e sabor

  1. Parabéns pelo artigo e pelo blog também. Também sou grande amadora de cerveja e principalmente as artezanais. Tenho até uma planta de lupulo em casa (no sul da França), um presente de um pesquisador (que mora por aqui) que escreveu livros interessantes sobre cerveja (em francês porém) : "cervejas e homems", "toda cerveja espuma?" , " a cerveja em 101 questões" (Jean-Paul Hebert).

  2. Eu so tomo agora I P A's, india pale ale, Dogsfish head 60 minuts e a ideal, 90 minuts voce se mareia rapido, a de 120 minuts e um tiro de canhao na cabeca depois da segunda garrafa. Quando vou ao Brasil, procuro pela Serra Malte a qual aprecio muito. Tenho que pesquisar mais as artesanais nacionais, eu como o Roberto filho tambem nao consigo lidar com skol, brahma etc, e como se tomar Badwiser nos EUA…da piriri!

    • Wagner, o Brasil tá começando a produzir ótimas IPAs. Ontem experimentei a Perigosa, uma Imperial IPA excelente. O problema é encontrá-las. Só nas lojas especializadas. Nos supermercados aqui de SP já dá pra encontrar facinho a Colorado Indica.

  3. Moro apenas 20 min. de Rehoboth e realmente vem se tornando muito popular a cada ano,vale a pena visitar Rehoboth, bons restaurantes, outlets e free tax.

    • Felipe, fizemos a mesma pergunta para o gerente da Dogfish quando estivemos por lá. Eles não tem planos pra exportar para o Brasil, ainda. Ele disse que podem, futuramente, fazer parcerias com as cervejarias artesanais daqui, como já fazem com outras cervejarias.

  4. Falando sobre a possibilidade de exportacao para o Brasil, acho que praticamente nenhuma cervejaria artesanal dos EUA (artesanal mesmo) vai ter planos de exportar em medio ou mesmo longo prazo. Eles nao dao conta nem do mercado interno! Moro nos EUA, e uma das maiores diversoes, quando viajando, eh cacar cervejarias de renome que nao tem distribuicao perto de voce. Alguns lancamentos sao disputados a tapa (literalmente). Uma cervejaria perto de mim (3 Floyds) tem uma festa anual para lancar uma Stout (Dark Lord) – voce paga pelo ingresso para a festa e lah dentro voce tem a chance de comprar uma e somente uma garrafa da cerveja. Nesse ano os ingressos pra festa se esgotaram em questao de minutos, literalmente… certamente exportacao nao tah nem perto dos planos dos caras.

    Quanto ao turismo cervejeiro, eh dificil pensar qual eh a melhor regiao aqui nos EUA: na costa Leste, viajando um pouco voce pode encontrar varias cervejarias excepcionais. Na costa Oeste, tanto o eixo Los Angeles-San Diego (pra muita gente o melhor daqui dos EUA) quanto a regiao ao redor de Portland pedem varios dias. E aqui no meio Oeste, onde moro, a regiao ao redor de Chicago tambem eh fenomenal: soh a 3 Floyds que eu mencionei aih em cima jah vale a viagem…

    Bem legal o blog de voces, parabens.

    • isso mesmo, Cesar! excelentes dicas! fizemos uma ótima viagem por algumas cervejarias de Maryland e foi sensacional. em breve, colocaremos aqui no blog. continue mandando suas dicas e uma honra sua frequência em nosso blog. Lupulinas estão felizes \\o/

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