a viajante IPA – Indian Pale Ale

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IPA - Indian Pale Ale

- Por favor, garçom, eu não quero ser cervejochata, mas você teria alguma cerveja IPA no cardápio?

Eis duas coisas difíceis: não parecer cervejochato e haver IPAs nos cardápios.

A IPA é uma cerveja com aroma herbáceo/picante e sabor amargo, de coloração que pode variar entre amarelo-escura e preta. Por causa de seu amargor, não agrada a todos, mas é cada vez maior o número de bebedores apaixonados pelas IPAs. Já chegaram a sugerir que a enorme quantidade de lúpulos usados nesse tipo de cerveja seria responsável pelo seu caráter viciante, já que a florzinha é parenta da canabis. Mas já foram feitos estudos e eles apontaram :D  que, não, o lúpulo – que dá o amargor à cerveja – não vicia.

O lúpulo dá frescor às IPAs. Dizem que esse tipo de cerveja surgiu quando a companhia de comércio inglesa East Indianmen contratou o cervejeiro George Hodgson para que fabricasse um lote de bebida que aguentasse uma viagem de navio de Londres até a India. O senhor Hodgson resolveu então adicionar generosas quantidades de lúpulo ao lote, confiando em suas propriedades conservantes e antibióticas. Batizou sua cerveja de “Hodgson’s India Ale”, mais clara que as pretas Porters que costumavam levar para as colônias, e despachou a beberagem. Nos porões do navio, a mágica aconteceu: com o balanço do oceano e lúpulos em exagero, a cerveja completou sua fermentação nas garrafas durante a viagem e chegou fresquíssima, potente, aromática e deliciosa na India.

Moral da história: IPAs viajam bem, e isso vale para os dias de hoje. Cervejarias artesanais adoram fabricar IPAs porque elas se conservam frescas e também por ser um tipo de cerveja que permite uma enorme variedade de receitas e uso de matéria-prima local e sazonal. A adição do lúpulo, por sua vez, passou a se sofisticar para além da função conservante, dando à cerveja graus variados de amargor, aroma e sabor (hoje a receita é bem diferente das “Hodgson’s India Ale” do final do século 18).

E assim, a florzinha opera mágicas. Existem lúpulos de amargor, usados durante o processo de fervura e lúpulos de aroma, utilizados ao final do cozimento e outros adicionados após a fervura, para dar sabor. Dependendo do tipo ou região de origem do lúpulo, podem-se obter aromas mais cítricos, herbáceos ou picantes.

Enfim, as IPAs, amarguinhas e cheias de personalidade, vêm conquistando o mercado das artesanais. Isso, sem falar nas double IPAs, ainda mais alcoólicas e lupuladas, sobre as quais nos alongaremos em outro post. O movimento está crescendo. Em breve, pareceremos menos cervejochatas e não será tão difícil encontrar IPAs nos bares e mercados. As Lupulinas assim desejam.

dicas:
Se você gosta de amargor, mas não muito, procure saber o grau de amargor na cerveja. Algumas IPAs já estampam a quantidade de IBU (grau de amargor) próxima à graduação alcoólica (ABV) em seus rótulos.

algumas IPAs mais fáceis de encontrar

nos supermercados:
Indica (Cervejaria Colorado, Brasil, Riberão Preto) 7,5 ABV, 45 IBU
Yellow Snow IPA (Cervejaria Rogue, Oregon, USA) 6 ABV, 70 IBU
Punk IPA (Cervejaria BrewDog, Escocia, UK) 6 ABV, 68 IBU

nas lojas e bares especializados em cerveja:
MaracujIPA (Cervejaria 2 Cabeças, Rio de Janeiro, Brasil) 7,5 ABV, 70 IBU
Hop Ottin’ IPA (Cervejaria Anderson Valley, California, USA) 7 ABV, 79 IBU
Centennial IPA (Cervejaria Founders, Michigan, USA) 7,2 ABV, 65 IBU
Mula IPA (Cervejaria Nacional, São Paulo, Brasil) 7,5 ABV, 60 IBU *à venda apenas na própria cervejaria
Três Lobos Pele Vermelha (Cervejaria Backer, Minas Gerais, Brasil) 7 ABV, 53 IBU
Falke Estrada Real (Falke Bier, Minas Gerais, Brasil) 7,5 ABV, 70 IBU

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28 thoughts on “a viajante IPA – Indian Pale Ale

  1. Depois que provei uma Pale Ale, eu mudei todo o meu gosto em relação à cerveja.
    Agora fiquei com vontade de provar essa Indian Pale Ale.
    Boa sorte ao novo blog.

  2. Depois que descobri com vocês que eu andava bebendo milho, e certamente transgênico, baixou um espírito ecochato nimim: não bebo mais essa droga. Preciso descobrir uma artesanal aqui em Terê urgentemente Parabéns, lindo blog! Com o humor das queridas na receita, só pode dar certo!

    • Estou em processo de montagem de uma cervejaria artesanal de pequeno porte em Terê, mais precisamente no Bairro Mafra, com acesso pela Rio-Bahia. A ideia é produzir sob encomenda, sem colocar produto no varejo. Nossa capacidade de produção vai ser de mais ou menos 160L por semana, mas ainda estamos em fase de montagem de infraestrutura e pesquisa de receitas.

      Este fim de semana fizemos uma Blonde Ale e uma Chocolate Oatmeal Stout, mas como nosso "maquinário" ainda não está pronto, fizemos apenas 30L.

      Abs

  3. IPA Rocks! Nada a ver com as Pale Ales comuns. As IPAs têm personalidade. A variante da estória dizia que o navio que levaria a Hodgson’s India Ale para a India quebrou e para não perder a cerveja o proprietário vendeu baratinho para os trabalhadores do porto de Londres. Esses gostaram tanto que encomendaram mais, desta vez a preços normais… Escutei essa estória na cervejaria Dog Fish Head, em Milton, Delaware. Produzi uma IPA que levou 15g de lúpulo por litro em vez dos tradicionais 1,5g/l. A graduação alcoolica também aumentou para 7,5! Ficou ótima, modéstia à parte.

  4. Sou cervejeiro artesanal.Digo que a minha pior cerveja que eu fiz,fica absurdamente melhor que uma ANTARTICA.Voces devem estar achando que eu sou besta,mas para um leigo,eu costumo perguntar qual é a melhor feijoada.Se é a do botequim da esquina,ou se é a que você faz em casa?A resposta é óbvia você só usa os melhores ingredientes,afinal é você que vai comer ou beber.Na internet há vários sites aonde se pode compar insumos e equipamentos para vocês entrarem nesse mundo maravilhoso que é FABRICAR A SUA PRÓPRIA CERVEJA!!!!!!!!

    • isso mesmo, Nelson. acreditamos que vai aumentar bastante o número de cervejeiros \”de garagem\”, principalmente quando os insumos ficarem mais acessíveis.

  5. Muito legal o blog. As IPAs estão, com certeza, no topo das minhas prediletas. Queria apenas deixar mais uma sugestão para quem quiser provar. A cervejaria Brooklin tem uma boa IPA e pode ser encontrada facilmente em mercados comuns.

  6. Faz um ano que virei cervejeiro artesanal. A 1ª já foi muito melhor que as comerciais, daí não tem como parar mais.
    Minha esposa provou uma IPA um dia e agora viciou. Talvez não pelo amargor, mas pelos aromas.
    Ontem fiz a 1ª IPA. Daqui um mês verei o resultado.
    Saúde Lupulinas!

  7. Cil e Vange, parabéns pelo Blog! As cervejas artesanais se tornaram uma grande curtição na minha vida. E as IPA's são aquelas que mais me deixam fascinado, por suas características tão bem expostas no post acima. Espero poder diversificar o meu conhecimento sobre estas delícias aqui com vocês. A melhor IPA que eu já tomei foi uma Heady-Topper (double IPA) da cervejaria The Alchemist, em Vermont/NY, presente do meu amigo Vitor de Marchi.

    • opa, benvindo, André. Nunca tomamos essa de Vermont. já tá na lista. e as double IPA (muito mais lupuladas) são maravilhosas mesmo. bjs.

  8. A crescente “popularidade” da IPA por aqui me parece bem óbvia: é normalmente a primeira cerveja saborosa que a pessoa toma na vida fora da rota skol/brahma/antartica/etc. E a sensação é fantástica! Este caminho dificilmente te volta.
    Parabens pelo blog! Muito bom!
    Não sei se conhecem, mas uma dica de cervejaria artesanal da minha região: Cervejaria Chopp do Fritz – Monte Verde, MG. Há 10 anos atras um mero chopp pilsen não filtrado mudou a minha vida cervejeira. Caminho sem volta :-)
    Grande abraço!!

  9. A Schornstein em Holambra está produzindo um IPA em garrafas, muito boa. Você pode também tomar a de barril no bar da cervejaria. Entrada da cidade, logo após o portal.

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